Propostas da UNITA contra a fome deixam-nos famintos

As propostas do Programa Eleitoral da UNITA para combater o problema da fome em Angola deixam um amargo de boca, o estomago apertado e uma dúvida picante. Mas criam apetite por medidas originais, porque apenas replicam o que tem vindo a ser feito de positivo. Teme-se um prolongado jejum colectivo.
No que diz respeito ao combate à fome em Angola, o partido de Adalberto da Costa Júnior assume quatro compromissos, estabelece outros tantos objectivos e avança com 21 medidas, que enchem o olho, mas não as barrigas.
O aperitivo do capítulo serve-se a frio: pretende-se “redefinir a cesta básica em termos específicos e quantitativos, de acordo com os padrões alimentares e nutricionais concorrentes ao desenvolvimento harmonizador das populações”.
Trocando por miúdos, a UNITA promete revolucionar a cesta básica, algo que ainda vai definir o que deve ser. Mas, antes, vai perder tempo em estudos e análises para concluir de que alimentos os angolanos precisam, e em que doses. Vai dar fome!
Requentar medidas, uma sobremesa e um digestivo
Imitando medidas que têm vindo a ser postas no terreno, em especial no Sul de Angola, a UNITA promete criar um “plano emergencial assistencialista de identificação e combate de bolsas de fome”. Desatenta, a UNITA, mais uma vez, não só não sabe o que deve ser a cesta básica, como não sabe onde há fome. Chega a enjoar!
Mas a cereja no topo do bolo vem logo a seguir: “Garantir que todos os angolanos tomam pelo menos 3 refeições diárias com o aporte calórico dentro dos parâmetros definidos pelas organizações internacionais”.
O prato é o mesmo: a UNITA, que não sabe onde há fome, promete três refeições a todos. Não sabemos quando nem como. Como dizem os portugueses, por este andar, “nem o pai morre, nem a gente almoça”!
Quanto ao resto, o programa requenta outras medidas em curso: melhoria genética de sementes, aumento e diversificação da produção alimentar nacional, capacitação dos produtores nacionais, promoção da produção de produtos da cesta básica (qual?) para reduzir as importações, reforço do ensino nesta área, produção interna de fertilizantes, promoção da agricultura familiar, merenda escolar garantida, etc., etc., etc.
Mas o melhor está no fim, há uma sobremesa e um digestivo.
A sobremesa: a UNITA, partido que defende a economia de mercado, promete que vai “regular o preço da cesta básica”, fingindo não saber que ela tem vindo a ficar progressivamente mais acessível por causa da implementação da Reserva Alimentar Estratégica, entre muitas outras medidas (que o Galo agora tira da boca como promessas suas); e
O digestivo: “Compatibilizar o salário mínimo nacional com o preço da cesta básica”. Sinta o paladar: a UNITA desconhece que cesta quer, mas garante “compatibilizar” o seu preço com o valor do salário mínimo.
Moral da história: um murro no estomago e a criação de uma dúvida que chega a dar náuseas: a de ficar sem saber como fica o salário mínimo!