Kilamba, a cidade gigante do futuro em Angola
O projecto emblemático da era do antigo presidente angolano José Eduardo dos Santos, a “cidade nova”, situada nos arredores da capital Luanda, não cumpriu todas as suas promessas. No entanto, os projectos deste tipo multiplicam-se, incentivados pelo actual presidente, João Lourenço.
Todas as cidades africanas estão à procura de soluções para gerir o seu crescimento. Luanda, a capital de Angola, que alberga quase um terço dos 33 milhões de habitantes do país, não é excepção à regra. Nos últimos anos, a criação de “novas centralidades” multiplicou-se na periferia da metrópole e nas outras províncias do gigante petrolífero do mundo lusófono.
Este movimento, iniciado pelo antigo presidente José Eduardo dos Santos, que esteve no poder de 1979 a 2017, prosseguiu com o seu sucessor João Lourenço, e por boas razões. Em Angola, como em todo o continente, o boom demográfico e a urbanização galopante estão a gerar uma necessidade crescente de habitação, a que as autoridades angolanas pretendem dar resposta através da construção de novas cidades.
O porta-estandarte desta política é Kilamba, criada pelo grupo chinês Citic, a cerca de 30 quilómetros de Luanda. A cidade gigante, com 20 mil apartamentos, é visível de longe devido à sua dimensão e às cores vivas que delimitam os diferentes blocos de edifícios. Foi inaugurada em Julho de 2011 com grande pompa pelo Presidente dos Santos, pouco antes das eleições gerais de 2012.
Um projecto pioneiro
Na altura, o Kilamba, um projecto pioneiro em África pela sua dimensão, foi apresentado como uma solução para o défice de habitação de uma classe média emergente. A realidade revelou-se mais complexa. Depois de um início difícil, nomeadamente devido aos elevados preços dos imóveis, a cidade ganhou vida e até se expandiu com a construção de mais 5.000 casas. No entanto, o seu crescimento foi travado pela crise económica, causada pela queda dos preços do petróleo, que atingiu o país entre 2014 e 2016. Desde então, o Kilamba recuperou o fôlego e continua a inspirar muitos angolanos, apesar das suas limitações.
Nos seus primórdios, a cidade foi por vezes referida como uma cidade fantasma ou um elefante branco, mas mesmo assim conseguiu vencer as adversidades. Quase totalmente ocupado e ligado à água e à electricidade, o Kilamba tornou-se um dos bairros da capital angolana por direito próprio, com administração e polícia locais, centros de saúde e campos desportivos, um enorme supermercado, algumas lojas locais e vendedores ambulantes.
“Em Angola, não há melhor oferta em termos de infantários e escolas”, diz uma moradora, apontando para as infra-estruturas que se encontram no centro de cada bloco de edifícios. Para tornar a zona mais atractiva, as autoridades transferiram alguns serviços públicos e até aulas universitárias para a zona, além de terem acrescentado uma igreja, um centro comercial e um hotel. “O Kilamba é cada vez menos uma cidade pendular”, diz um habitante que vive ali desde 2013. “Mesmo que nem tudo seja perfeito, nós, que vivemos aqui, estamos felizes por sermos a inveja de muitos, prova da atractividade da cidade.”
Preços de venda mais baixos
Antes de chegar a esse ponto, porém, duas coisas importantes aconteceram. A primeira foi uma redução de 30% a 40% no preço de venda dos apartamentos. Colocados no mercado entre 120.000 e 200.000 dólares para apartamentos de três a cinco assoalhadas, estes apartamentos só encontraram compradores um ano mais tarde, depois de o Estado ter proposto um programa de arrendamento com uma taxa de juro preferencial, reduzindo o preço do apartamento mais pequeno de 120.000 para 84.000 dólares. Este programa foi dispendioso para o Estado, mas abriu caminho para a chegada de muitos funcionários públicos.
O segundo aspecto diz respeito à gestão do parque habitacional. Esta foi inicialmente confiada à empresa privada Delta Imobiliaria e depois entregue à Sonip, uma subsidiária dedicada aos investimentos imobiliários da empresa petrolífera nacional Sonangol. Mais tarde, o programa foi confiado à empresa privada Imogestin para a comercialização, juntamente com o Fundo de Apoio à Habitação – que faz parte do Ministério das Obras Públicas – para a cobrança das rendas. Embora o sistema pareça ter estabilizado, há ainda margem para melhorias, com o fundo a ter dificuldades em cobrar certas somas devidas.
O Kilamba tem um historial misto. “Se o projecto é um sucesso do ponto de vista social, pois alargou o acesso à propriedade, o mesmo não acontece do ponto de vista económico”, afirma Allan Cain, arquitecto que dirige a Development Workshop, uma ONG especializada em planeamento urbano, e é autor de vários estudos sobre as novas cidades angolanas.
Projecto emblemático da era do antigo presidente angolano José Eduardo dos Santos, a “cidade nova”, situada nos arredores da capital Luanda, não cumpriu todas as suas promessas. No entanto, os projectos deste tipo multiplicam-se, incentivados pelo actual presidente, João Lourenço.
Todas as cidades africanas estão à procura de soluções para gerir o seu crescimento. Luanda, a capital de Angola, que alberga quase um terço dos 33 milhões de habitantes do país, não é excepção à regra. Nos últimos anos, a criação de “novas centralidades” multiplicou-se na periferia da metrópole e nas outras províncias do gigante petrolífero do mundo lusófono.
Este movimento, iniciado pelo antigo presidente José Eduardo dos Santos, que esteve no poder de 1979 a 2017, prosseguiu com o seu sucessor João Lourenço, e por boas razões. Em Angola, tal como no resto do continente, o boom demográfico e a urbanização galopante geram uma necessidade crescente de habitação, a que as autoridades angolanas pretendem dar resposta através da construção de novas cidades.
O porta-estandarte desta política é Kilamba, criada pelo grupo chinês Citic, a cerca de 30 quilómetros de Luanda. A cidade gigante, com 20 mil apartamentos, é visível de longe devido à sua dimensão e às cores vivas que delimitam os diferentes blocos de edifícios. Foi inaugurada em Julho de 2011 com grande pompa pelo Presidente dos Santos, pouco antes das eleições gerais de 2012.