As contrapartidas de Kagame
O presidente do Ruanda, Paul Kagame, é uma personalidade cada vez mais influente no continente africano, utilizando as suas capacidades de manipulação para obter uma relevante ajuda externa. Kagame encontrou um esquema que está a ser muito bem sucedido: combater ao lado de governos cujos países estão a braços com guerras ou ameaças terroristas. A última aventura foi no Benim, pequeno país da África Ocidental.
Em 23 de Julho de 2022, o Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas do Benim, o Brigadeiro-General Fructueux Candide Ahodegnon Gbaguodi, esteve no Ruanda numa importante missão. Na altura, Gbaguodi adiantou que “foi mandatado pelo Presidente da República do Benim, Sua Excelência Patrice Talon, para trocar informações sobre questões de segurança e partilhar experiências com o seu homólogo ruandês”. Em 9 de Setembro de 2022, foi noticiado que o governo do Benim estava em conversações com o Ruanda sobre a disponibilização de conhecimentos militares e o envio até 700 efectivos para ajudar a combater os insurgentes islâmicos neste país. E assim foi.
A “aventura” de Kagame no Benim seguiu-se à sua intervenção em Moçambique, para onde enviou um contingente de mil militares modernamente equipados com destino à província nortenha de Cabo Delgado, onde se situam os investimentos de 20 mil milhões de dólares da multinacional francesa TotalEnergies em Gás Natural Liquefeito (LNG, sigla em inglês). O pano de fundo da intervenção do Ruanda em Cabo Delgado é a rápida normalização das relações diplomáticas entre a França e o Ruanda em 2021, que aumentou acentuadamente a ajuda externa da França de zero para “o montante total de quase 500 milhões de euros” até 2023.
Entretanto, foi noticiado que o império empresarial do partido no poder de Kagame, a Crystal Ventures Ltd, está a fazer negócios prósperos ao abrigo de “um grande contrato no enorme projecto de LNG de Moçambique”. A subsidiária de engenharia civil da Crystal Ventures Ltd, a NDP, foi subcontratada no projecto liderado pela TotalEnergies, fazendo trabalhos estruturais e de limpeza.
Antes de se deslocar a Moçambique, Kagame tinha enviado forças para a República Centro-Africana (RCA). Inicialmente, o Ruanda tinha contribuído com militares para a Missão Multidimensional Integrada de Estabilização das Nações Unidas na República Centro-Africana (MINUSCA), no terreno desde 2014. Mas, em 20 de Dezembro de 2020, Kagame celebrou um novo acordo de segurança bilateral com o governo da RCA ao abrigo do qual o Ruanda enviou um destacamento militar separado da MINUSCA.
Pouco depois do envio, a Crystal Ventures Ltd, do partido no poder de Kagame, conseguiu vários negócios na RCA. Por exemplo, ao abrigo do Memorando de Entendimento assinado pelo Ministério da Agricultura e dos Recursos Animais do Ruanda, a Crystal Venture Ltd foi muito bem sucedida, como explicou o jornal do partido no poder, The New Times: “A República Centro-Africana cedeu 70.500 hectares ao Ruanda, que estão prontos a ser utilizados… sob a gestão da Crystal Ventures, uma empresa ruandesa local que é a mãe da empresa de agro-processamento Inyange Industries, entre outras empresas.”