Brasil interessado em capacitar angolanos em biotecnologia

A empresa Alta Genetics do Brasil, a maior central de biotecnologia do mundo, mostrou-se, no Lubango, disponível para capacitar, com tecnologia de ponta, a mão-de-obra angolana, no melhoramento genético, afim de obterem maiores índices de produtividade bovina.
A biotecnologia transformou o Brasil de importador de carne e leite para um país auto-suficiente e actualmente, no maior exportador de carne do mundo, tudo feito com base no melhoramento genético animal. É o segundo depois da Índia com o maior rebanho no mundo estimado em 244 milhões de cabeças.
O país da começou a utilizar na década de 1960 técnicas de inseminação artificial normal, em 2002 diminui essa utilização e começou a utilizar a Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF), o que fez a revolução no Brasil, passaram a utilizar hormônios que estimulam todas as vacas a tornarem-se cíclicas no mesmo tempo.
Com isso, têm o benefício que todos os bezerros nascem no mesmo período com um desmame feito ao mesmo tempo, o que possibilita criar lotes de animais e com a utilização desses criam a categoria animal, de melhor, média e pior qualidade, desses mantêm os melhores no rebanho, os de média vendem e o de pior mandam para o abate.
Em declarações à ANGOP, no quadro da dissertação do tema “A importância da biotecnologia na pecuária”, na Feira do Gado da Huíla, o gerente de novos negócios da Alta Genetics do Brasil, Rodrigo de Moraes Rodrigues, afirmou que a sua empresa trás know-how para trabalhar com cooperativas de criadores de gado angolanas.
Declarou que se existir apoio por parte do Executivo angolano, poder-se-á fazer as coisas a acontecerem, difundir a tecnologia e com isso fazer uma expansão, não vista ainda em Angola, pois só nos últimos 20 anos já se investiu mais de um bilião de dólares em embriões, sémen e novas tecnologias.
“Angola tem a vantagem de ter terras de melhor qualidade que a do Brasil, com isso pode copiar a nossa experiência, seja na parte da selecção animal, da nutrição e divisão de fazendas. É uma questão de ver empresas sérias que realmente queiram trabalhar com Angola, da forma que precisa”, manifestou.
Destacou que o melhoramento genético é o factor fundamental para o desenvolvimento e combater a fome, devendo ser feito com empresas correctas, de responsabilidade e com profissionais sérios para assim podem fazer a diferença na história de Angola
Referiu que os preços da carne ainda são elevado, bem como o do leite no mercado angolano, situação que vai ser ultrapassada, a partir do momento em que existir uma maximização da produção, possível com a biotecnologia.
“Conseguimos fazer essa evolução num curto espaço de tempo, dependendo da propriedade, sair de vacas com média de 4,5 litro de leite/dia para as com 40, num período de três anos. As propriedades precisarão passar por um processo de melhoria”, explicou.
Lamentou que o produtor angolano, na sua maioria, trabalha ainda de forma rudimentar, sem manejo de um curral bem feito, divisão de pasto, não se preocupa com a sanidade animal por falta de empresas nacionais que possam produzir vacinas com baixo custo, associada à falta de especialistas em veterinária.
Por sua vez, o porta-voz da Federação Nacional das Cooperativas Pecuárias de Angola (FENACOOPA) Victor Panzo disse que a organização está aberta para qualquer cooperação e o Brasil por estar “bem avançado” é uma aposta, já que o foco da confederação é a formação de quadros.
Fez saber que Angola está a formar alguns quadros no sector, através dos institutos médios agrários e a faculdade de medicina veterinária, tendo mais de 300 técnicos formados nas áreas agrárias e pecuária, mas insuficientes para dar suporte à cadeia, pelo que precisariam no mínimo de três mil.
“Temos poucas fazendas a implementar essa tecnologia, que contam com uma mão-de-obra estrangeira que garante este suporte. O desejo é continuar a formar e entregar nos nacionais para continuarem com os destinos da biotecnologia implementada na pecuária”, reforçou.
Victor Panzo ressaltou que a nível do centro e sul de Angola alguns têm essa técnica, mas o desafio é a energia, o acesso, comunicação e telecomunicações, pelo que o Executivo precisa sentar com a cooperativas e a federação para traçar as linhas mestras e implementar o serviço a nível de todo o país.
A federação controla quatro cooperativas no país, divididas em regiões, nomeadamente a oeste, sul, centro e norte, com mais de mil e 500 membros.