Sociedade civil preocupada com recrutamento forçado no Burquina Faso
Um grupo de organizações da sociedade civil do Burquina Faso manifestou preocupação com casos de “sequestro” e “recrutamento forçado” de cidadãos para auxiliares do exército na luta contra o jihadismo, e denunciou a “negação recorrente e sistemática da liberdade de opinião.”
O Movimento Burquiname pelos Direitos Humanos e dos Povos (MBDHP) “tomou conhecimento com consternação do rapto e do alistamento forçado de Boukaré Ouédraogo, presidente do movimento “Appel de Kaya”, para os VDP (Voluntários para a Defesa da Pátria, auxiliares civis do exército)”, ocorrido no passado dia 22 de Março, escreveu a organização numa declaração enviada à AFP, esta quarta-feira, dia 29.
Outra organização, o Colectivo contra a Impunidade e a Estigmatização das Comunidades (CISC), numa declaração separada, confirmou o rapto e recrutamento.
Segundo o MBDHP, Ouedraogo foi na quarta-feira passada “à residência do governador do Centro-Norte para se encontrar com o presidente de transição Ibrahim Traoré”, que visitava Kaya, a capital da região, explicou o MBDHP, citando testemunhas.
Para a CISC, a detenção de Boukaré Ouédraogo está relacionada com uma conferência de imprensa realizada alguns dias antes, onde este interrogou o Presidente Traoré, que chegou ao poder num putsch no final de Setembro, sobre a situação de segurança na região.
Ambas as organizações denunciaram uma “detenção arbitrária” e apelaram à libertação imediata de Ouedraogo, lamentando a “tendência actual de negação recorrente e sistemática da liberdade de opinião e de expressão dos cidadãos.”
No sábado, durante um encontro com cidadãos de Kaya, o capitão Ibrahim Traoré admitiu ter ordenado o alistamento de um cidadão – sem o nomear -, acusando-o de ter divulgado informações que levaram ao ataque a um “centro nevrálgico” próximo da cidade que fez pelo menos catorze mortos, incluindo quatro soldados.
“Por sua culpa, os homens caíram. Fizemo-lo compreender e contratámo-lo imediatamente para ser um PMV. E assim será com todos aqueles que não são capazes de defender o país”, disse Traoré que foi efusivamente aplaudido.
De acordo com outras organizações da sociedade civil, no sábado, dois dos seus representantes também foram detidos e registados como VDPs depois de criticarem a gestão da transição numa conferência de imprensa.
Desde 2015, o Burquina Faso enfrenta uma espiral de violência perpetrada por grupos jihadistas ligados ao Estado islâmico e à Al-Qaeda, com um balanço de mais de 10 mil mortos, entre civis e soldados, segundo as ONG, e cerca de dois milhões de deslocados.