Só 14% da ajuda alimentar chegou à população necessitada na região do Tigray

O memorando do Tigray Food Cluster, um grupo de agências de ajuda humanitária co-presidido pelo Programa Alimentar Mundial das Nações Unidas (PAM) e por funcionários etíopes, exorta as instituições e países a “aumentarem imediatamente” as suas operações de ajuda.

Alerta ainda que se nada for feito rapidamente haverá uma “grave insegurança alimentar e desnutrição durante a estação de escassez, com possível morte das crianças e mulheres mais vulneráveis da região.”

As Nações Unidas (ONU) e os Estados Unidos da América (EUA) suspenderam a ajuda alimentar ao Tigray em Março do ano passado, depois de terem descoberto um esquema “em grande escala” de desvio de cereais destinados a ajuda humanitária. Em Junho, a suspensão foi estendida ao resto da Etiópia.

As autoridades norte-americanas acreditam que o roubo pode ser o maior desvio de cereais de sempre. Os doadores responsabilizaram os funcionários do governo etíope e as forças armadas do país pela fraude, tendo o governo da Etiópia rejeitado essa acusação como “propaganda” prejudicial.

A ONU e os EUA levantaram a pausa em Dezembro, depois de introduzirem reformas para travar o roubo, mas as autoridades do Tigray dizem que os alimentos não estão a chegar aos que deles necessitam.

Dois trabalhadores de agências humanitários disseram à Associated Press que o novo sistema – que inclui a instalação de localizadores GPS em camiões de alimentos e cartões de racionamento com códigos QR – tem sido prejudicado por problemas técnicos, causando atrasos. As agências de ajuda humanitária estão também a debater-se com a falta de fundos.

A região do Tigray, onde vivem 5,5 milhões de pessoas, foi o centro de uma devastadora guerra civil de dois anos que matou centenas de milhares de pessoas e se espalhou pelas regiões vizinhas.

A ONU acusou o Governo da Etiópia de usar “a fome como método de guerra” ao restringir a ajuda alimentar à região durante o conflito, que terminou em Novembro de 2022 com um acordo de paz.

Cerca de 20 milhões de pessoas em toda a Etiópia precisam de ajuda alimentar devido à seca, ao conflito e uma economia em crise. A pausa na ajuda humanitária aumentou ainda mais os níveis de fome.

Na região de Amhara, vizinha do Tigray, uma rebelião que eclodiu em Agosto de 2023 está a dificultar a distribuição da ajuda, e várias regiões da Etiópia foram devastadas por uma seca que dura há vários anos.

As taxas de desnutrição entre as crianças em partes das regiões de Afar, Amhara e Oromia variam entre 15,9% e 47%, de acordo com uma apresentação do Grupo de Nutrição da Etiópia. Entre as crianças deslocadas no Tigray, a taxa é de 26,5%.

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