“Queremos colocar Angola no top-10 das selecções africanas”

O português Pedro Gonçalves é o técnico há mais tempo à frente de uma selecção africana. Os cinco anos ao comando dos Palancas Negras têm sido caracterizados por muitos êxitos, tendo sido batidos alguns recordes. Por duas vezes consecutivas a selecção chegou ao Campeonato Africano das Nações (CAN), a maior competição futebolística do continente. Numa entrevista publicada ontem, quarta-feira, dia 18, no conceituado jornal desportivo português “A Bola”, Pedro Gonçalves diz ter os olhos postos no Mundial de 2026. Aqui reproduzimos os principais pontos da entrevista.

– O que representa mais este feito dos Palancas Negras?

Pedro Gonçalves (PG) – Representa o consolidar de um crescimento desportivo. Arrancámos a fase de qualificação com quatro vitórias, garantindo logo o apuramento o que foi extremamente motivador. O que me orgulha mais no apuramento é o nosso trajecto. A nossa capacidade de resiliência e foco.

– Falou em trajecto…Que trajecto é esse?

PG – Estamos em finais de 2019, e, após o Mundial de sub-17, começo a ter tempo para idealizar um projecto que poderíamos concretizar: entre seis e oito anos queríamos estar no top-10 das selecções de futebol africano. Na altura, entre 54 selecções, Angola estava na posição 34, ultrapassada por todos os PALOP’s excepto São Tomé e Príncipe. Mas acreditava. Pelos potencial dos jovens jogadores que conhecia bem dos escalões de formação de Angola, como pelo acréscimo de jogadores da diáspora poderiam dar e a principal riqueza que o país tem, que são as pessoas.

– Estar no CAN é a validação desse percurso?

PG – Estar nas grandes competições é decisivo para alavancar o desenvolvimento e a mobilização de todas as energias do país em prol da selecção. Fomos desenvolvendo um espírito de selecção.

– E passaram a bater recordes…

PG – Já tínhamos batido o recorde dos Palancas em 2022, mas o ano de 2024 tem sido inesquecível…

– Que começa com o CAN, onde fazem história por recorde de pontos na fase de grupos e primeira vez que afastam uma selecção na fase a eliminar…E passa a ser notícia que Angola era a selecção mundial com mais vitórias em 2024…

PG – Esse dado apanhou-me de surpresa, confesso. Não estava à espera mas é mais um dado que nos motiva para fazer mais e melhor.

– O CAN de 2025 é dentro de um ano, em Marrocos. Angola nunca passou dos quartos de final desta competição. É pedir muito o apuramento para as meias-finais e, aí chegados, dar asas ao sonho?

PG – Naturalmente queremos sempre evoluir e melhorar….Temos um desafio pela frente. A Federação tem um novo presidente, o general Alves Simões. Estamos num período de transição naturalmente agitado mas que entrará em velocidade de cruzeiro em breve. Temos de perceber se há um envolvimento global neste projecto e ambição.

– E isso passa pelo Governo angolano?

PG – Esse envolvimento tem mesmo de passar pelo Estado. Chamado a ajudar a ter uma voz naquilo a que nos queremos propor. Contribuir para definirmos o que podemos proporcionar a esta selecção que nos tem dado alegrias e apresentado resultados. Há um conjunto de países africanos que não diferem do topo do futebol europeu. Temos vindo a fazer esse caminho, mas há ainda caminho a fazer. Só o enorme talento dos jogadores e a paixão dos angolanos é que nunca falta. Continuo a acreditar que temos capacidade de entrar no lote das dez melhores selecções de África. Temos de batalhar mais…Todos juntos.

– Em 2026, cumpre-se o vigésimo aniversário do momento mais alto dos Palancas: a presença inédita num mundial, neste caso na Alemanha. Haverá melhor maneira de evocar esse feito do que regressar em 2026, a um Mundial?

PG – O grande objectivo é mesmo o apuramento para o Mundial de 2026. E é um objectivo realista. O favorito no nosso grupo de qualificação é a selecção dos Camarões, a selecção africana com mais presenças num Mundial. Lidera o grupo, mas é um dos mais equilibrados grupos africanos de qualificação. Logo, está tudo em aberto. Acreditamos que temos potencial e a consistência para continuar a crescer. Faltam seis jogos muito exigentes. Fechamos nos Camarões, mas é um desafio para superar.

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