Partidos vão reclamando vitória face ao silêncio da CNE nas autárquicas moçambicanas

O Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE) de Moçambique apelou à serenidade e disse que o processo está a respeitar os prazos, mas, entretanto, vão sendo conhecidos e reclamados resultados por outras vias.
O Movimento Democrático de Moçambique (MDM) reclamou vitória na autarquia da Beira, capital da Província de Sofala. Lutero Simango, presidente da segunda maior força política da oposição, apresentou, ontem, quinta-feira, dia 12, os números da contagem paralela: “Nas percentagens quem teve o maior bolo foi o MDM, que são 67%. Como nós sabemos, a Assembleia Municipal tem 49 assentos. Feita a divisão, de acordo com as percentagens, o MDM obteve 33 assentos, a Renamo 2 assentos e a Frelimo 14. Assim podemos concluir que quem ganhou as eleições na Beira foi o MDM! Dedico este vitória ao Deviz Mbepo Simango”, – líder do partido falecido em 2021.
De acordo com dados da Comissão Distrital de Eleições, a Frelimo venceu em Pemba, capital da Província de Cabo Delgado, com quase 65% dos votos, contra 27% da Renamo 27% e 7.6% do MDM. Ontem já tinha sido anunciada a vitória da Frelimo em Mocímboa da Praia, outro dos municípios da província de Cabo Delgado.
Entretanto, o STAE voltou a deixar claro que os resultados definitivos das eleições autárquicas, realizadas na quarta-feira, dia 11, nos 65 municípios de Moçambique, vão ser conhecidos num período de 15 dias, como prevê a Lei Eleitoral.
Ontem à tarde, quinta-feira, foi a vez do cabeça-de-lista da Renamo na cidade de Maputo, Venâncio Mondlane, realizar uma marcha pelas artérias da capital, para agradecer aos eleitores pelo que designou ″resgate″ da urbe. Perante milhares de apoiantes, Venâncio Mondlane, reivindicou a vitória em Maputo afirmando: “Até esta tarde, foram apurados 53% de votos favoráveis para RENAMO de 92% das mesas já processadas. Portanto, não há dúvida nenhuma de que a vitória é nossa. Entretanto, todo o tipo de manipulação que tentarem fazer dos resultados vai ser o funeral deste regime”, enfatizou.
Durante a passeata que teve o seu ponto de partida a Sede da Delegação Política da cidade de Maputo, Mondlane reiterou que recebeu ameaças em sua casa esta quarta-feira, pouco depois do processo de votação. Explicou que indivíduos estranhos bloquearam a entrada da sua casa com dois carros de vidros fumados com o intuito de o impedirem de dar a conferência de imprensa que decorreu às 02h00 da manhã, mas devido à intervenção dos seus vizinhos que saíram com lanternas e os dois carros abandonaram o local.
“A vitória é nossa, por esta razão, nos próximos dias iremos implementar na cidade de Maputo o projecto apresentado aos eleitores para tornar a cidade num local que garanta a dignidade humana. Não importa se você é do sector informal ou se é vendedor de rua, todos têm a dignidade. Por esta razão, nós em princípio não vamos usar a força policial como primeira opção”.
Venâncio Mondlane garante que a primeira opção para resolver os problemas com os informais vai ser o diálogo com o público em busca de solução de uma forma amigável. Para Mondlane, neste momento, a Frelimo está apenas a celebrar a vergonha visto que nunca esperava o que ocorreu na cidade de Maputo. ″Ela, [a Frelimo] devia poupar-se destas coisas, devia aceitar os resultados e procurar tentar voltar a concorrer nos próximos cinco anos″.
“O facto da Comissão Nacional de Eleições (CNE) ter ficado muito tempo em silêncio foi simplesmente porque não tinha números, estavam a fabricar os números para forjar os resultados das eleições”, disse.
Mondlane diz que a Frelimo tem de aceitar a derrota e entregar a cidade de Maputo à Renamo. “Somos um país democrático que tem regras, temos um país republicano que tem uma Constituição. O que a FRELIMO tem de fazer é conformar-se com as leis e com a democracia e mais nada”, rematou.
Já esta manhã, a surpresa veio da capital da Zambézia, Quelimane, onde Comissão Distrital de Eleições (CDE) anunciou, após concluída uma contagem intermédia, a vitória do partido Frelimo com 50,45% contra 43,45% da Renamo. A confirmarem-se estes resultados, a Frelimo conquista uma importante autarquia que tem estado nas mãos da oposição.