Partido sul-africano que vai integrar o novo Governo suspende deputado por comentários racistas
O principal partido da oposição sul-africano, o Aliança Democrática (DA, sigla em inglês), que vai integrar um Governo de coligação nos próximos dias, suspendeu ontem, quinta-feira, dia 20, um dos seus deputados devido à divulgação de um vídeo datado de 2010 onde este fazia comentários racistas.
O DA anunciou que Renaldo Gouws, que tomou posse como deputado na semana passada após as recentes eleições legislativas, seria convocado para uma audiência disciplinar interna. “O DA verificou que o vídeo, no qual Renaldo Gouws utiliza uma linguagem abominável, é genuíno e não falso, como se suspeitava inicialmente”, declarou o partido, que o suspendeu “com efeito imediato.”
O caso surgiu numa altura em que o país atravessa um momento político delicado. Na semana passada, o DA chegou a um acordo de Governo com o Congresso Nacional Africano (ANC, sigla em inglês), que está no poder há 30 anos, mas perdeu pela primeira vez a maioria absoluta no parlamento, para formar um governo de coligação.
De acordo com alguns analistas, o DA tem dificuldade em desfazer-se da imagem de um partido que defende os interesses dos cidadãos brancos (menos de 8% da população), apesar de ter obtido 22% nas eleições legislativas.
A sua participação num Governo de coligação incomoda uma franja significativa do ANC, que libertou o país do apartheid, bem como a oposição de esquerda, que denunciou uma “aliança profana liderada por brancos.”
Ontem, a Comissão dos Direitos Humanos anunciou um processo contra o “discurso de ódio” de Gouws, afirmando que, enquanto deputado, “as suas alegadas acções têm um peso e uma responsabilidade ainda maiores.”
No vídeo, datado de 2010, Gouws apela à morte dos “kaffir” (cafres), o termo racista mais ofensivo na África do Sul, como resposta a uma canção anti-apartheid controversa e bem conhecida que apela à “morte dos Boers”, frequentemente entoada pelo líder populista do partido dos Combatentes da Liberdade Económica (EFF, sigla em inglês) Julius Malema.
Esta semana, Gouws, num outro vídeo, pediu desculpas “sem reservas”. Nele afirmava que os sul-africanos brancos estavam a viver o apartheid ao contrário. “Refuto qualquer acusação de racismo (…) No entanto, vejo como a minha mensagem foi distorcida na forma como a transmiti e assumo total responsabilidade pelas minhas acções numa altura em que era jovem e imaturo”, escreveu Gouws na rede social X (ex-Twitter).