Na Gâmbia, o último país onde a CEDEAO interveio, a opção militar no Níger divide opiniões

Enquanto os chefes de Estado-Maior dos exércitos da África Ocidental estão reunidos desde ontem, 17 de Agosto, em Acra, Gana, para discutir as modalidades de uma eventual intervenção armada no Níger, esta opção, na Gâmbia, divide as opiniões.
Este país, encravado no Senegal e que tem as suas fronteiras ao longo do rio que lhe dá o nome, foi o último a assistir, em 2017, à entrada de um destacamento de forças da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) para apear Yahya Jammeh, o presidente que governou autocraticamente o país durante mais de duas décadas e que havia perdido as eleições para Adama Barrow, mas que se recusava a abandonar o poder. Embora este destacamento tenha sido bem recebido no país, alguns observadores gambianos acreditam que o caso do Níger é diferente.
“A intervenção da CEDEAO ajudou a restabelecer a ordem constitucional na Gâmbia”, recorda Lala Touray, representante do Conselho da Juventude da Gâmbia à RFI. “Vimos como esta intervenção foi benéfica e sem vítimas”, confessa. Para Touray, a intervenção da CEDEAO pôs fim a “22 anos de ditadura”. “Esta ditadura surgiu na sequência de um golpe de Estado na década de 1990. Por isso, o que está a acontecer no Níger é um eco da nossa própria história”, afirma.
“A Gâmbia é única, o Níger é diferente”
“O caso da Gâmbia é único, o do Níger é diferente”, insiste Mara Young, directora executiva da ONG Gambia Participates à RFI. “A CEDEAO tem de pensar nas consequências de uma eventual intervenção militar, porque a África Ocidental tem muitos grupos militantes e eles estão apenas à espera que haja um conflito na sub-região para usarem a força”, assegura.
Madi Jobarteh, outro activista da sociedade civil gambiana, considera que a Gâmbia não tinha meios para responder. “Não temos um grande exército e as nossas tropas não são muito experientes”, explica. Em 2017, as forças de segurança de Yahya Jammeh não ofereceram qualquer resistência à missão da CEDEAO conhecida como “Operação Restauração da Democracia”, sublinha.
Apesar das suas reservas, Jobarteh reconhece, no entanto, uma dívida para com a CEDEAO: “Temos uma obrigação moral de enviar tropas para a força de prontidão da CEDEAO, porque o bloco apoiou-nos quando precisámos. Muitas pessoas ainda hoje têm boas recordações dessa intervenção.”
“Não queremos a África Ocidental dividida em dois blocos”
Mara Young, por seu lado, é a favor da via diplomática para resolver a crise no Níger. “Não queremos ver um bloco da África Ocidental dividido em dois grupos, entre os que são a favor da democracia e os que são a favor das juntas militares”, afirma. “Podemos resolver a crise de forma pacífica.”
Por seu lado, Lala Touray considera que a intervenção militar “não tem de resultar na morte de inocentes”. No que nos diz respeito, a intervenção da CEDEAO não causou nenhuma morte. Penso que isso é algo que podemos replicar no Níger.
A questão da intervenção militar ofusca outras questões fundamentais, diz Mara Young. “Não esqueçamos que os cidadãos da comunidade da África Ocidental estão mais preocupados com o aumento da pobreza na região, o recrudescimento da insegurança na África Ocidental, a fraca conetividade que liga os países da África Ocidental e os problemas de deslocação por avião, que são um verdadeiro pesadelo”, afirma.
“São estes os verdadeiros problemas que afectam os africanos, muito mais do que uma eventual intervenção militar no Níger”, conclui.