Muitos dos desaparecidos na Nigéria têm o “dedo” do Estado, revela organização humanitária

Se a Nigéria é largamente o país mais populoso do continente africano também o é largamente no número de pessoas desaparecidas.

De acordo com uma investigação do Comité Internacional da Cruz Vermelha, em 2020, havia cerca de 23.000 casos de pessoas desaparecidas na Nigéria, mais de metade dos desaparecidos em todo o continente.

Um relatório publicado este mês pela HumAngle, uma organização nigeriana sem fins lucrativos que se debruça sobre questões humanitárias, concluiu que muitas destas pessoas desaparecidas foram vítimas de execuções extrajudiciais e detenções arbitrárias por parte das forças de segurança do Estado.

A HumAngle criou uma base de dados com cerca de 3650 pessoas desaparecidas nas zonas de Chibok, Gwoza, Bama e Askira-Uba, no norte dom país. Em colaboração com a revista New Lines, sediada em Washington, a editora de investigações da HumAngle, Kúnlé Adebajo, localizou, utilizando dados de geolocalização, pessoas desaparecidas, entrevistou testemunhas oculares, analisou documentos que tinham sido divulgados e visitou vários locais.

Adebajo disse ao jornal “The Continent” que pelo menos 200 das pessoas desaparecidas “foram detidas por agentes de segurança, maioritariamente militares”. A HumAngle também obteve números que mostram que os militares levaram mais de 3320 corpos para uma morgue no Estado de Borno entre 2013 e 2022. “Isto não inclui as centenas de corpos enterrados em valas comuns”, disse Adebajo.

A investigação encontrou provas de valas comuns de suspeitos de terrorismo, em violação do direito internacional. Concluiu que, através de prisões arbitrárias, detenções ilegais e execuções extrajudiciais pelas forças de segurança, o Estado é um dos principais contribuintes para o crescente problema das pessoas desaparecidas na Nigéria.

Não admira, portanto, que a base de dados sobre pessoas desaparecidas que a Comissão Nacional dos Direitos Humanos da Nigéria prometeu criar em 2015 ainda não esteja operacional.

Recorde-se ainda que a Nigéria atrasou nove anos a apresentação de um relatório à ONU sobre os seus progressos na legislação contra os desaparecimentos forçados.

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