Morreu o controverso líder histórico dos Zulus

O líder histórico do partido sul-africano Inkatha e figura respeitada dos zulus, Mangosuthu Buthelezi, faleceu este sábado, dia 9, anunciou o Presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa. Contava 95 anos.

“É com profunda tristeza que anuncio a morte do príncipe Mangosuthu Buthelezi, o Príncipe de KwaPhindangene, primeiro-ministro tradicional do rei e da nação Zulu, fundador e presidente emérito do Partido da Liberdade Inkatha”, declarou Ramaphosa em comunicado.

Ramaphosa saudou um “líder formidável que desempenhou um papel importante na história” da África do Sul durante sete décadas. “O Príncipe Mangosuthu Buthelezi tem sido um líder notável na vida política e cultural da nossa nação, incluindo os altos e baixos da nossa luta de libertação, a transição que garantiu a nossa liberdade em 1994 e o nosso regime democrático”, salientou.

Mas apesar destes elogios do Chefe de Estado, Buthelezi não deixou de ser uma figura controversa da política sul-africana. Durante o regime do apartheid, foi ministro-chefe do Bantustão de KwaZulu: um território semi-autónomo atribuído ao povo Zulu pelo governo supremancista branco do país.

A sua administração foi amplamente considerada como um regime fantoche: dependente do Estado sul-africano para obter poder, intolerante em relação à oposição política e dominado pelo Inkatha – o partido que fundou em 1975.

Buthelezi, todavia, encontrou uma causa comum com o Congresso Nacional Africano (ANC) na luta contra o apartheid e fez campanha pela libertação de Nelson Mandela. Contudo, opôs-se à posição do ANC relativamente à acção armada e às sanções internacionais, argumentando que estas prejudicavam os negros sul-africanos.

Já no início dos anos 90, durante a transição para a democracia multipartidária, Buthelezi receou a erosão do seu poder. Exigiu um sistema de governo de pendor federal, com garantias de que o estatuto dos líderes tradicionais zulus seria respeitado. O ANC discordou e cerca de 12.000 pessoas morreram em violentos confrontos entre o Inkatha e os apoiantes de Nelson Mandela no início da década de 1990, que se acredita terem sido alimentados pelo governo do apartheid. Chegou-se mesmo a temer que a violência conduzisse o país a uma guerra civil, mas Buthelezi acabou por aderir ao governo de unidade nacional chefiado por Mandela, em 1994. Apesar da persistência das tensões, foi ministro dos Assuntos Internos durante uma década.

O seu Partido da Liberdade Inkatha (IFP) teve dificuldade em expandir a sua base eleitoral para além dos Zulus, o maior grupo étnico do país, mas Buthelezi sobreviveu às tentativas de o afastar da liderança. Acabou por deixar o cargo de presidente do IFP em 2019.

Com uma personalidade intimidante, dizia-se que era “capaz de alternar entre um charme desenfreado e uma belicosidade implacável”. Para os seus apoiantes, o Chefe Buthelezi fez o seu melhor para proteger o seu povo, enquanto trabalhava para minar um regime racista do apartheid. Para os seus detractores, será recordado como tendo ocupado uma posição confortável de poder, numa altura em que os “verdadeiros” activistas eram presos, exilados, torturados e mortos.

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