Moody’s: Angola é o país mais reformista em África

A Moody’s apontou, esta sexta-feira, Angola como o país mais reformista em África, nos últimos cinco anos, e considerou “louvável” o esforço de ajustamento orçamental. Para o analista principal da agência de rating, Aurelien Mali, que segue a economia angoalna, a situação económica pode melhorar ainda mais.
A Moody’s reviu, esta semana, em alta a previsão de crescimento de Angola, de 1,2% para 2,7%, marcando a saída de cinco anos de crescimento económico negativo.
“Entre a maioria dos países africanos, Angola é provavelmente o país que fez mais reformas estruturais nos últimos cinco anos”, disse à Lusda Aurelien Mali, apontando a consolidação orçamental, a nova lei do orçamento, a introdução do IVA e o ajustamento das finanças públicas como exemplos.
Questionado sobre se estas reformas não vão motivar uma subida do ‘rating’ do país, que foi cortado duas vezes no em 2021, o analista afirmou ser necessário esperar para ver como será a realidade, sublinhando que, para já, os riscos reflectidos no rating estão equilibrados e três meses de ambiente positivo é pouco para mudar a avaliação sobre a qualidade do crédito soberano de Angola.
Aurelien Mali concordou que Angola não deverá ter necessidade de procurar um alívio da dívida para além da Iniciativa de Suspensão do Serviço da Dívida (DSSI), apontando que a economia angolana está numa situação muito diferente da posição da Zâmbia, Etiópia e Tchade, que pediram a adesão ao Enquadramento Comum para o Tratamento da Dívida para além da DSSI.
“A situação em Angola é muito diferente da situação destes países. As descidas do rating em 2020 não foram uma questão de solvência, foi principalmente um problema de pressão na liquidez externa e as autoridades negociaram uma reestruturação de dívida no valor de 7 mil milhões USD com um credor na China nos próximos dois anos e meio a contar de Junho de 2020″, lembrou o analista.
Para o anlista, quando se olha para o serviço de dívida externa e o pacote de ajuda financeira das instituições financeiras internacionais e tendo em conta o ajustamento que o país já fez, mostra que há um caminho possível para não precisar de alívio da dívida ao abrigo do Enquadramento Comum.
“Angola, de resto, sempre disse que não iria solicitar aos credores privados uma reestruturação da dívida, precisamente para não ver o seu rating revisto e arriscar uma exclusão dos mercados financeiros. As autoridades, quando aderiram à DSSI no ano passado, explicaram muito claramente que não envolveriam os credores do sector privado e cumpriram”, reconheceu Aurelien Mali.
Em relação a subida do rácio da dívida pública face ao PIB para cerca de 100%, o analista contrapôs que a dívida medida em dólares desceu nos últimos três anos, passou de 75,3 mil milhões USD, em 2017, para 65 mil milhões USD no final do ano passado.
Acrescentou que o país fez um esforço muito louvável para ajustar as finanças públicas.
Em 2021, pormenorizou, o Governo gastava 40 a 45% do PIB para pagar a dívida externa e agora gasta 20% do PIB e apesar do impacto extremo do choque petrolífero nas finanças públicas, tive um défice de 1,7% do PIB.
Na sua opinião, o Governo de Angola tem demonstrado capacidade para ajustar as finanças públicas aos choques.
“Com o preço orçamentado para o petróleo este ano nos 39 USD, se houver um período com um preço estável acima disso, a situação deve melhorar significativamente e um indicador importante é o nível de reservas. A taxa de câmbio melhorou cerca de 10% desde Dezembro, provavelmente haverá mais dólares disponíveis”, salientou o analista, reconhecendo, ainda assim, que também há riscos no horizonte.