Missão de paz africana com tarefa hercúlea
Esta manhã, no momento em que a delegação africana chegava à Ucrânia para uma missão de mediação no conflito com a Rússia, os quatro chefes de Estado e os representantes de três outros países foram recebidos por uma chuva de uma dúzia de mísseis russos sobre Kiev. Mesmo assim , a delegação africana efectuou as duas etapas essenciais por que passam os líderes estrangeiros quando visitam a Ucrânia: visita a Butcha e audiência com o Chefe de Estado ucraniano.
A paragem em Butcha, pelo simbolismo, representa o primeiro trauma desta guerra, onde centenas de civis foram executados no início da invasão russa e onde os edifícios ainda conservam marcas dos disparos de mísseis. A delegação prestou homenagem no memorial da cidade, que se encontra no local onde foi descoberta uma vala comum, refere o correspondente da RFI em Kiev, Julien Chavanne.
A segunda paragem foi na capital, na Praça Saint-Michel, a fim de observarem os escombros dos tanques russos destruídos, ao lado de fotografias de soldados ucranianos mortos. Este é o percurso clássico de cada delegação estrangeira, antes do encontro com o Presidente Volodymyr Zelensky.
Ao início da manhã, 12 mísseis russos sobrevoaram os céus de Kiev, sendo rechaçados pelo sistema de defesa antiaérea ucraniana, caindo os seus destroços na zona rural em redor da capital, destruindo várias casas.
O chefe da diplomacia ucraniana postou imediatamente no Twitter que os ataques russos a Kiev eram uma “mensagem para África: a Rússia quer mais guerra, não quer paz”. De acordo com Dmytro Kouleba, este foi “o maior ataque de mísseis a Kiev desde há semanas.”
Para muitos observadores em Kiev, o bombardeamento é uma mensagem indicadora do desdém do Kremlin em relação à tentativa de mediação africana, numa altura em que a delegação deste continente se vai deslocar a São Petersburgo no sábado, 17 de Junho.
Entretanto, os líderes africanos, incluindo o presidente sul-africano Cyril Ramaphosa, ainda não reagiram ao ataque russo. Após a reunião com o Presidente ucraniano, haverá uma conferência de imprensa.
Iniciativa enfraquecida pelas deserções
No entanto, esta missão de bons ofícios continua a suscitar cepticismo, com muitos observadores a insistirem que as suas hipóteses de sucesso são extremamente reduzidas. Os líderes africanos “não vão poder oferecer-nos nada em termos de resolução do conflito”, afirma o analista político ucraniano Anatoliy Oktysiouk, entrevistado pela AFP. “Não podem desempenhar o papel de mediadores. Têm pouco peso político e nenhuma influência”, acrescentou.
Esta é a última iniciativa de uma série de esforços diplomáticos até agora infrutíferos para encontrar uma solução para o conflito entre a Rússia e a Ucrânia. A missão africana, enfraquecida pelas ausências de última hora de alguns dos participantes, não será fácil.
Criticada pela sua proximidade com Moscovo, a África do Sul recusou-se a condenar a Rússia desde o início da guerra na Ucrânia, alegando manter uma posição neutra e querer dar prioridade ao diálogo.
Recorde-se que os países africanos têm sido menos unânimes do que as grandes potências ocidentais na denúncia da invasão russa da Ucrânia. O Kremlin está a tentar atrair os líderes africanos para o seu campo, apresentando a Rússia como um baluarte contra o imperialismo ocidental e acusando o Ocidente de utilizar sanções para bloquear as exportações russas de cereais e fertilizantes, essenciais para África.