Milhares marcham no Quénia contra a onda de assassinato de mulheres

Milhares de pessoas marcharam no último sábado, dia 27, nas principais cidades do Quénia em protesto contra os recentes assassinatos de mais de uma dúzia de mulheres. A manifestação anti-feminicídio foi o maior evento alguma vez realizado no país contra a violência sexual e baseada no género.
Na capital do país, Nairobi, os manifestantes trajaram t-shirts com os nomes das mulheres que foram vítimas de homicídio este mês. A multidão, na sua maioria mulheres, paralisou o trânsito.
“Parem de nos matar!”, gritavam os manifestantes enquanto agitavam cartazes com mensagens como “Não há justificação para matar mulheres.”
A multidão em Nairobi foi hostil às tentativas da representante parlamentar para as mulheres, Esther Passaris, de se dirigir aos manifestantes, acusando-a de ter permanecido em silêncio durante a última vaga de assassinatos. Os manifestantes gritaram-lhe com cânticos de “Onde estavas?” e “Vai para casa!”
“Um país é julgado não pela forma como trata os seus ricos, mas pela forma como cuida dos fracos e vulneráveis”, disse o presidente da Law Society of Kenya, Eric Theuri, citada pela Reuters.
14 mulheres assassinadas desde o princípio do ano
Os meios de comunicação social quenianos noticiaram o assassínio de pelo menos 14 mulheres desde o início do ano, de acordo com Patricia Andago, jornalista de dados da empresa de comunicação social e investigação Odipo Dev, que também participou na marcha.
A Odipo Dev informou esta semana que as notícias mostram que pelo menos 500 mulheres foram mortas em actos de feminicídio entre Janeiro de 2016 e Dezembro de 2023. Muitos mais casos não são registados, adiantou Andago.
Dois casos que assolaram o Quénia este mês envolveram duas mulheres que foram mortas em alojamentos da Airbnb. A segunda vítima foi uma estudante universitária que foi desmembrada e decapitada depois de ter sido raptada para pedir um resgate.
A cabeça da estudante da Universidade de Agricultura e Tecnologia Jomo Kenyatta foi encontrada numa barragem uma semana depois de o seu corpo desmembrado ter sido encontrado num caixote do lixo na casa alugada. Dois homens nigerianos foram detidos em conexão com a sua morte.
Theuri, o presidente da Law Society of Kenya, disse que os casos de violência de género demoram demasiado tempo a ser ouvidos em tribunal, o que, na sua opinião, encoraja os perpetradores a cometer crimes contra as mulheres.
“Neste momento, temos um défice de cerca de 100 juízes. Temos um défice de 200 magistrados e juízes, o que significa que a roda da justiça está a girar lentamente devido à insuficiência de recursos”, afirmou.