Generais da Frelimo distanciam-se de golpista congolês
O presidente do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), terceira força parlamentar do país, Lutero Simango, mostrou-se “bastante preocupado” com as ligações de afinidade entre Christian Malanga, suspeito líder do movimento que conduziu uma tentativa de golpe de Estado na República Democrática do Congo (RDC), e figuras ligadas ao partido no poder em Moçambique.
Entretanto, em comunicados separados, dois generais e veteranos de luta da libertação de Moçambique distanciaram-se de qualquer vínculo com as actividades ilícitas de Malanga.
“Nós sabemos que Congo Kinshasa é um país membro da SADC e havendo esta tentativa de golpe de Estado em que participam dois americanos residentes em Moçambique e também com certa afinidade com algumas pessoas ligadas ao poder, neste caso concreto que é o general Joaquim Alberto Chipande, isso preocupa-nos bastante”, precisou Lutero Simango, para quem “o general Alberto Chipande tem a obrigação de explicar aos moçambicanos o que sabe sobre isso.”
Em vídeos que circulam nas redes sociais e reproduzidos nos medias locais, Alberto Chipande e Fernando Bengala, generais e veteranos de luta de libertação de Moçambique, pela Frelimo, o partido no poder, aparecem em encontros com Christian Malanga, que detém empresas mineiras registadas em Maputo e Chimoio.
Nos vídeos, divulgados em Fevereiro e Setembro de 2023, na página de Facebook de Christian Malanga, Fernando Bengala aparece a assinar um memorando de entendimento com o congolês, enquanto outro vídeo mostra Alberto Chipande a receber a delegação que era chefiada por Christian Malanga.
Entretanto, em comunicados separados, os dois generais e veteranos de luta de libertação de Moçambique, confirmaram os encontros mantidos em 2023, mas distanciaram-se da existência de qualquer vínculo com as actividades ilícitas de Christian Malanga.
A Fundação Alberto Chipande refere que o encontro mantido entre o seu patrono e Christian Malanga seguiu-se a um pedido do empresário residente no reino de Essuatíni (antiga Suazilândia), para conhecer as actividades da fundação.
“Na época não havia indícios de envolvimento em actividades ilícitas”, nota o comunicado enviado à Voz da América (VOA), realçando que a fundação “repudia veementemente qualquer acto de violência ou tentativa de alteração da ordem constitucional por meios ilegais.”
“A fundação encoraja as autoridades a investigar a fundo a entrada e as eventuais actividades ilícitas praticadas por Christian Malanga em Moçambique, garantindo que qualquer infração seja punida nos termos da lei”, refere a nota de imprensa.
Por sua vez, o grupo Bengala Minas, representado por Fernando Bengala, outro influente membro da Frelimo, que manteve uma reunião em Fevereiro de 2023 com Christian Malanga, no hotel Polana, em Maputo, distanciou-se, igualmente, de qualquer vínculo com o suspeito líder do golpe de Estado na RDC e condenou o acto.
A firma, vocacionada para a exploração mineira nas províncias de Manica e Tete, refere que “o encontro com Christian Malanga seria para estreitar relações de negócios na mesma área de actuação”, mas nunca chegaram a ser dados passos nesse sentido.
Refira-se que os três suspeitos de conduzir um golpe de Estado na República Democrática de Congo (RDC), têm três empresas registadas em Maputo e Chimoio, que actuam na área mineira, nomeadamente a Bantu Mining Company, a CCB Mining Solution e a Global Solution Moçambique.
Cole Ducey, natural da Califórnia, e Benjamim Polun, natural de Maryland, residiam no bairro do Alto-Maé no centro da cidade de Maputo, enquanto Christian Malanga, um congolês, vivia no exílio nos EUA, com passaporte emitido pelo Essuatíni (onde viveu como refugiado), que detinha negócios com a família real. Ambos tinham negócios em Moçambique e Essuatíni, ligados à atividade mineira.
Em nota posta a circular esta quarta-feira, dia 22, o Instituto Nacional de Minas (INAMI) de Moçambique esclarece que as empresas Bantu Mining Company, CCB Mining Solution e Global Solution Moçambique não constam da base de dados do cadastro mineiro do país, ou seja, não são titulares de licenças mineiras.
“Os três sócios não estão relacionados com nenhuma empresa registada na base de dados do cadastro mineiro junto da direção Nacional de Geologias e minas do Ministério dos Recursos Minerais”, avança a entidade, que reconhece que as referidas empresas são registadas em Moçambique, mas não são operadoras mineiras.
Uma investigação levada a cabo pela VOA aponta que os três sócios mantinham operações mineiras de exploração de ouro numa área em Bunga, no distrito de Guro, na província de Manica. Como responsabilidade social pela exploração, os investidores ofereceram um furo de água à comunidade em 2023.
Em Dezembro de 2022, Marcel Malanga, que se supõe ser filho de Christian Malanga, publicou na sua página uma angariação de donativos para apoiar a comunidade de Bunga com água potável.
Entretanto, a embaixada dos Estados Unidos da América (EUA) em Maputo condenou veementemente o ataque a líderes políticos e instituições nacionais da RDC, assegurando que vão “cooperarão com as autoridades da RDC em toda a medida possível durante a investigação”. “Apoiamos totalmente que todos os responsáveis sejam levados à justiça”, avança o porta-voz do Departamento do Estado dos EUA, citado na nota.