Evasão de cadeia em Maputo faz 33 mortos

De acordo com o Comandante-Geral da Polícia de Moçambique (PRM), Bernardino Rafael, pelo menos 1.534 reclusos evadiram-se ao início da tarde de ontem, quarta-feira, dia 25, da Cadeia Central de Machava, arredores de Maputo. O responsável afirmou tratar-se de uma acção “premeditada” e da responsabilidade de manifestantes pós-eleitorais, tendo morrido 33 pessoas.

“Esperamos nas próximas 48 horas uma subida vertiginosa de todo o tipo de criminalidade na cidade de Maputo”, afirmou Bernardino Rafael, em conferência de imprensa ao início da noite de ontem, garantindo que entre os reclusos em fuga, dos quais apenas 150 foram recapturados, estavam alguns “terroristas altamente perigosos”.

“Facto curioso é que naquela cadeia nós tínhamos 29 terroristas condenados, que eles libertaram. Estamos preocupados, como país, como moçambicanos, como membros das Forças de Defesa e Segurança”, afirmou Bernardino Rafael.

Segundo o comandante-geral PRM, a evasão resultou da “agitação” de um “grupo de manifestantes subversivos” nas imediações.

“Fazendo barulho, nas suas manifestações, exigindo que pudessem retirar os presos que ali se encontram a cumprir as suas penas”, descreveu Bernardino Rafael, explicando que esta acção provocou “agitação” no interior da cadeia, o que levou ao desabamento de um muro, propiciando a fuga, apesar da “confrontação imediata” com os guardas prisionais.

“Esta confrontação resultou [em] 33 óbitos, na confrontação directa com os reclusos. Nas imediações da Cadeia Central 15 feridos”, avançou ainda, apelando à entrega voluntária dos reclusos em fuga e à informação da população sobre estes foragidos.

Moçambique vive o terceiro dia consecutivo de caos nas ruas, na sequência do anúncio da homologação dos resultados eleitorais pelo Conselho Constitucional, com saques, vandalizações e barricadas, nomeadamente em Maputo.

Recorde-se que o Conselho Constitucional de Moçambique proclamou, na tarde de segunda-feira, dia 23 Daniel Chapo, candidato apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder), como vencedor da eleição a Presidente da República, com 65,17% dos votos, sucedendo no cargo a Filipe Nyusi, bem como a vitória da Frelimo, que manteve a maioria parlamentar, nas eleições gerais de 9 de Outubro.

Este anúncio provocou o caos em todo o país, com manifestantes pró-Venâncio Mondlane – que segundo o Conselho Constitucional obteve apenas 24% dos votos – nas ruas, barricadas, pilhagens e confrontos com a polícia, que tem vindo a realizar disparos para tentar a desmobilização.

48 horas de caos

Pelo menos 56 pessoas morreram em Moçambique desde segunda-feira, na sequência da contestação aos resultados das eleições gerais moçambicanas, e 152 foram baleadas, segundo balanço feito pela plataforma eleitoral Decide.

De acordo com o levantamento daquela Organização Não-Governamental (ONG) que monitoriza os processos eleitorais em Moçambique, com dados de 23 e 24 de Dezembro, 31 das vítimas mortais registaram-se na província de Sofala, centro do país, e nove em Nampula, no norte, além de seis em Maputo (cidade e província), no sul.

Dos 152 baleamentos, aquela ONG contabiliza 56 na cidade de Maputo e outros tantos em Sofala, apontando ainda um total de 102 detenções, 40 das quais na cidade capital, onde uma pessoa está desaparecida.

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