Enviado especial da ONU para o Sudão demite-se sob pressão

O enviado especial da ONU para o Sudão, Volker Perthes, demitiu-se em plena reunião do Conselho de Segurança da instituição. Perthes apresentou a demissão ontem, quarta-feira, 13 de setembro, enquanto informava os embaixadores sobre os últimos desenvolvimentos do conflito entre os dois chefes militares sudaneses.

“Agradeço ao Secretário-Geral a oportunidade e a confiança que depositou em mim, mas pedi-lhe que me demitisse deste cargo”, declarou ao Conselho de Segurança, sem justificar a sua saída.

Volker Perthes apresentou ao Conselho um relatório contundente, condenando as duas partes em conflito, o exército sudanês e as forças paramilitares de apoio rápido (RSF). “O que começou como um conflito entre duas formações militares pode transformar-se numa verdadeira guerra civil”, afirmou, sublinhando que “os combates não mostram sinais de abrandamento e nenhuma das partes parece estar perto de uma vitória militar.”

Em Junho passado, o governo sudanês já tinha declarado Volker Perthes persona non grata, o que chocou o Secretário-Geral da ONU, António Guterres, que o tinha enviado ao Sudão há dois anos e meio para apoiar a transição democrática.

Esta semana, o governo sudanês foi ainda mais longe e passou diretamente para a chantagem, como a embaixadora dos EUA na ONU, Linda Thomas Greenfield, declarou publicamente no Conselho de Segurança. “Soube, uma vez mais, que o governo sudanês avisou que vai exigir a saída da Missão das Nações Unidas do Sudão se o Representante Especial participar nesta reunião”, disse. E acrescentou: “Estas ameaças são inaceitáveis. Os Estados Unidos apoiam firmemente o trabalho do Representante Especial. Não se deve permitir que nenhum país ameace a capacidade deste Conselho de assumir as suas responsabilidades em matéria de paz e segurança.”

No seu último relatório, Volker Perthes condena os bombardeamentos aéreos indiscriminados do exército sudanês, a violência sexual e as pilhagens cometidas pelos soldados. O enviado da ONU recorda às partes beligerantes que terão de responder pelos crimes cometidos, enquanto mais de 5 mil pessoas foram mortas desde meados de Abril e os combates deslocaram mais cinco milhões de pessoas.

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