Eleições na África do Sul criam cenário inédito

A Comissão Eleitoral Independente (CEI) da África do Sul, anunciou ontem, domingo, dia 2, os resultados oficiais das 7ª eleições gerais. A declaração dos resultados das eleições, nas quais nenhum partido político emergiu como vencedor absoluto, ocorreu dentro do prazo de sete dias estipulado por lei, e após 579 objeções de alguns partidos políticos, alegando “irregularidades” no processo de registo de resultados por parte da CEI.
Todavia, na sua intervenção, o presidente da CEI, Mosotho Moepya, afirmou que “as objeções não tiveram impacto significativo no resultado geral” do escrutínio.
No poder desde que Nelson Mandela venceu, em 1994, as primeiras eleições multirraciais, o Congresso Nacional Africano (ANC, sigle em inglês) obteve 40,19% dos votos escrutinados. Apesar de ser o mais votado, o ANC perdeu a maioria absoluta no Parlamento e terá de forjar alianças para formar um Governo de coligação para os próximos cinco anos.
Na sequência do anúncio dos resultados, o Presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, que é também presidente do ANC, considerou que as eleições demonstraram que a África do Sul tem uma democracia “robusta”. “Os sul-africanos demonstraram, através do voto, que a democracia é forte e robusta, que após 30 anos continua durável. Demonstraram que pretendem fazer deste país um lugar melhor”, salientou o líder sul-africano e concluiu: “O povo falou, quer se goste ou não, e todos devem respeitar a sua vontade.”
Noutro desenvolvimento, referiu que “o resultado destas eleições significa que os eleitores que votaram esperam que todas as organizações políticas encontrem terreno comum para resolver as suas diferenças e trabalhar em prol do bem de todos”. “O que o nosso povo espera é que todos os partidos trabalhem no âmbito da constituição, de forma pacífica, em respeito pela ordem”, sublinhou Ramaphosa. “As eleições foram justas, credíveis e pacíficas”, afirmou o presidente sul-africano, concluindo que “é altura de trabalhar, que Deus abençoe o país e proteja o seu povo.”
Inédita perda de maioria absoluta
O ANC, que perdeu a maioria absoluta e 71 mandatos nesta votação para o Parlamento, terá de coligar-se, pela primeira vez na história, com outro partido para formar governo. Os resultados finais revelam que o partido obteve 40,19% dos votos dos votos – uma enorme queda em relação aos 57,5% que obteve nas últimas eleições, em 2019. O partido outrora liderado por Nelson Mandela não conseguiu garantir maiorias absolutas em três das nove províncias do país em votações eleitorais regionais.
A província sul-africana do Cabo Ocidental foi mantida pela maioria da Aliança Democrática (DA), enquanto o reduto do ANC em KwaZulu-Natal foi conquistado pelo recém-formado partido uMkhonto we Sizwe (MK), liderado pelo antigo Presidente e ex-líder do ANC Jacob Zuma.
A província de Gauteng, que inclui a potência económica do país, Joanesburgo, e a capital executiva sul-africana, Pretória, também registou uma queda importante do ANC.
Parceiros de coligação
O facto de o ANC não ter chegado aos 50,1% necessários para formar governo, deixou o partido sem outra opção senão procurar parceiros de coligação. “Teremos de falar com vários partidos. Temos uma série deles disponíveis, mas não decidimos nenhum. Podemos trabalhar com qualquer partido que esteja de acordo connosco; qualquer partido que esteja de acordo com os nossos princípios”, disse o presidente nacional do ANC, Gwede Mantashe.
Por sua vez, o maior partido da oposição na África do Sul, a Aliança Democrática (DA, sigla em inglês), – obteve 21,8% dos votos – nomeou uma equipa de negociação para dialogar com outros partidos políticos com o objetivo de formar uma coligação maioritária, anunciou o seu líder, John Steenhuisen, no domingo, dia 2.
Numa intervenção transmitida no YouTube, Steenhuisen disse que a AD pretende evitar uma “coligação catastrófica” entre o ANC e os radicais de esquerda do uMkhonto we Sizwe (MK) do ex-Presidente Jacob Zuma – 14,5% dos votos -, o maior vencedor do escrutínio, ou os Combatentes da Liberdade Económica (EFF, sigla em inglês) que obteve 9.5%.