“Depois da subida ao poder de João Lourenço deixamos de olhar para os mesmos países e Angola começou a adaptar-se mais ao mundo actual”
O ministro dos Negócios Estrangeiros da China começou na terça-feira, 9, um périplo por cinco países africanos, repetindo a tradição da diplomacia de Pequim de visitar o continente nos primeiros dias do ano.
Para especialistas angolanos, entrevistados pela Voz da América, a inclusão de Luanda na agenda do ministro dos Negócios Estrangeiros da China revela a importância de Angola para Pequim. “Isto mostra que a China atribui grande importância à amizade tradicional com África e ao desenvolvimento das relações China-África”, disse um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês.
O mesmo entendimento tem a professora angolana de Relações Internacionais Emilia Pinto, quem atribui também este feito ao Presidente angolano.”Depois da subida ao poder de João Lourenço deixamos de olhar para os mesmos países e Angola começou a adaptar-se mais ao nosso mundo actual que é mais multidisciplinar, hoje em dia prevalece a ideia de que quanto mais relações tiveres, maior é a probabilidade de te desenvolveres”, aponta Pinto.
Quanto a uma eventual rivalidade entre a China e Estados Unidos da América no “piscar de olho à Angola”, é para a especialista um falso problema. “Nunca se deve colocar em cima da mesa a ligação entre China e EUA, o que Angola deve colocar na mesa é aquilo que são os seus interesses perante os dois países e os interesses das duas potências para com Angola, estas relações podem ser benéficas para os programas que se pretende implementar em Angola”, conclui. Quem tem opinião contrária é Osvaldo Caholo, especialista em Relações Internacionais, e que escreveu sobre este assunto o livro “A realidade da selva humana”.
“Está a faltar aí um elemento para fazer o quadrado: Rússia, EUA, China e Angola, que é o único que não ganha nada com estas relações, e isto está argumentado no livro que escrevi, onde chamo a isto ´Angola com ciúmes de Prostituta´ uma espécie de continuidade da escravidão, em que os lideres africanos quase que se prostam, ajoelham, humilham-se e o país nunca se posiciona para nenhum lado”, explica Caholo que usa o que chama de “linguagem aqui do bairro, o que importa é a “micha”.
O economista Américo Vaz olha de forma diferente para o triângulo Angola-China-EUA, e diz que “aqui a bola está do nosso lado, Angola não tem que ficar mais amigo dos EUA, ou mais amigo da China, nós devemos ficar no meio dos dois colossos e aproveitar o máximo possível tanto da relação com a China, como com os norte-americanos”.
Américo Vaz pensa que Angola é fundamental em África, sobretudo na região em que se encontra, daí o “piscar de olhos” destas potências mundiais. O Ministério das Relações Exteriores de Angola não informou a data da visita nem os contactos que Qin Gang irá manter em Luanda.