“Deixem de tratar os africanos como crianças”, líder do junta militar da Guiné-Conacri

O líder da junta militar da República da Guiné (Conacri), o coronel Mamadi Doumbouya, teve, na tarde de ontem, quinta-feira, dia 21 de Setembro, o seu baptismo de fogo nos grande fóruns internacionais, ao tomar a palavra na 78ª Sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas, que decorre em Nova Iorque, Estados Unidos.

O chefe de Estado guineense, que foi várias vezes aplaudido, denunciou um modelo de governação que considera ter sido “imposto” pelo Ocidente. Um modelo ocidental que considera ser um fracasso no continente negro. “A África sofre de um modelo de governação que nos foi imposto, um modelo que é certamente bom e eficaz para o Ocidente, que o concebeu ao longo da sua história, mas que tem dificuldade em atravessar e adaptar-se à nossa realidade”, disse. “Infelizmente, gostaria de dizer que a corrupção não foi eliminada.”

Num outro desenvolvimento, o líder da junta denunciou os “rótulos” com que outras nações querem categorizar os Estados africanos. “Não somos nem pró nem anti-americanos, nem pró nem anti-chineses, nem pró nem anti-franceses, nem pró nem anti-russos. Somos simplesmente pró-africanos, nada mais. Colocar-nos sob a alçada desta ou daquela potência é um insulto a uma população de mais de mil milhões de africanos”, disse, dos quais cerca de 70% são jovens que não têm medo de nada. Jovens abertos ao mundo e determinados a tomar o seu destino nas suas próprias mãos.

Mamadi Doumbouya convidou a comunidade internacional a “olhar para África com novos olhos” e a envolver-se com o continente “numa cooperação franca, num espírito de parceria vantajosa para todos.”

Substituindo o uniforme e a boina miliares por um grande bobou branco e um chapéu tradicional muçulmano, Doumbouya negou ser “mais um soldado que quer torcer o pescoço à democracia, mais um soldado que quer impor a sua ditadura”. “Um golpista não é apenas alguém que pega em armas e derruba um regime”, afirmou. “Os verdadeiros golpistas, os mais numerosos, que não são condenados de forma alguma, são também aqueles que maquinam, que utilizam artifícios, que fazem batota para manipular os textos da Constituição a fim de permanecerem no poder para sempre”, denunciou.

O líder da junta da República da Guiné invocou a maturidade e a juventude de África para apelar à ruptura com a velha ordem mundial, ao mesmo tempo que defendeu o não-alinhamento. “A África do papá, a velha África, acabou”, afirmou. “É tempo de ter em conta os nossos direitos, de termos o nosso lugar. Mas também, e sobretudo, é tempo de deixarem de nos dar lições, de deixar de nos olhar de cima para baixo, de deixar de nos tratar como crianças”, afirmou.

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