CPLP deve actuar como “bloco estratégico” e alternativa energética

A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) deve assumir-se como um “bloco estratégico” e uma alternativa global no sector da energia. Esta é a visão que deve nortear os trabalhos da II Conferência de Energia da CPLP, que decorrerá nos dias 27 e 28 de Maio, no Centro de Congressos do Estoril, em Portugal. A declaração foi feita por Mayra Pereira, presidente da ALER – Associação Lusófona de Energias Renováveis, em entrevista à agência Lusa.
Segundo a responsável, o momento actual representa uma oportunidade única para a comunidade lusófona tirar partido das suas vantagens, reforçando a cooperação entre Estados-membros e empresários do sector energético. “A CPLP pode e deve actuar como um bloco estratégico nas cimeiras e fóruns internacionais”, defendeu.
Para isso, sublinhou a importância de uma forte diplomacia económica, da formação de alianças temáticas e, sobretudo, da construção de uma narrativa comum que traduza as prioridades da CPLP em propostas concretas. “Essa abordagem permitirá à CPLP posicionar-se como uma das alternativas no cenário energético mundial, porque tem, definitivamente, condições para isso”, afirmou.
Mayra Pereira destacou ainda o potencial de África como uma grande oportunidade para a CPLP, lembrando que a maioria dos países-membros pertence ao continente africano. “Temos uma grande vantagem. África é definitivamente um continente a considerar, e a maioria dos países da CPLP está em África”, frisou. Acrescentou ainda que o Brasil, como um dos principais atores do G20, possui um posicionamento estratégico com potencial para abrir portas significativas à comunidade.
Este ano é também especial, observou, pela realização da COP 30 no Brasil — um evento falado em português —, e pelo fato de Angola assumir a presidência da União Africana, a maior organização regional do continente. Referindo-se indiretamente aos Estados Unidos e à nova política externa de Donald Trump, Mayra Pereira indicou que um importante actor financeiro “saiu de África” e “podem entrar novos”, considerando que cada país da CPLP tem capacidade para atrair investidores.
“Existe, neste momento, um enorme potencial para os países da CPLP se unirem na captação de financiamento conjunto e adoptarem uma posição mais coesa nos fóruns internacionais”, insistiu.
A nível empresarial, a presidente da ALER vê na CPLP um grande potencial para joint ventures, consórcios, missões empresariais conjuntas e investimentos em projectos de energias renováveis nos países-membros, com a transferência de competências entre eles. Destacou também as oportunidades nos sectores dos biocombustíveis, hidrogénio verde e soluções híbridas, como a combinação de gás natural com energia solar, que começam a ser exploradas em alguns países da comunidade. Enfatizou ainda a necessidade de colaboração com empresas locais para o desenvolvimento de cadeias de valor verdes.
A conferência contará com a presença de ministros e representantes de alto nível dos países da CPLP, bem como de actores relevantes do sector energético, incluindo representantes da COP 30 e da Missão 300 — um dos maiores mecanismos de financiamento previstos para os próximos anos.
Segundo Mayra Pereira, especialista em energia renovável, meio ambiente e sustentabilidade, o encontro deverá promover a partilha de conhecimento sobre a gestão de recursos e debater temas como os fundos de transição energética e os acordos de conversão de dívida, com vista à sua expansão para outros países da CPLP.
De acordo com a CPLP, a II Conferência de Energia será “um momento de partilha dos mais recentes desenvolvimentos e projetos-âncora das transições energéticas de cada Estado-membro”, e tem como objectivo promover novas parcerias, oportunidades de investimento e financiamento, sob o lema: “Impulsionando uma Transição Energética Resiliente, Sustentável e Inclusiva para a CPLP”.
Entre os temas em discussão estarão as políticas públicas para a transição energética, o planeamento energético, a diversificação de combustíveis, os sistemas elétricos do futuro, a descarbonização e a economia verde, os compactos de energia, bem como os mecanismos de financiamento e investimento no sector.
A conferência é promovida pelo Governo de São Tomé e Príncipe, que detém actualmente a presidência da CPLP, e será coordenada pela ALER e pela RELOP – Associação de Reguladores de Energia dos Países de Língua Oficial Portuguesa. Conta ainda com o apoio do Ministério do Ambiente e Energia de Portugal.