Corpo de Lenine revisitado no centenário da sua morte

É na Praça Vermelha, em Moscovo, junto ao Kremlin, centro do poder na Rússia, que se encontra o corpo embalsamado de Vladimir Ilyich Ulyanov, por todos conhecido por Lenine. Ontem, domingo, dia 21, completou-se 100 anos do seu desaparecimento.
Apesar da temperatura rondar os -15 graus, dezenas de nostálgicos de Lenine não perderam a oportunidade para se reunirem em frente ao seu mausoléu, assinalando 100º aniversário da morte do pai da revolução bolchevique e da União Soviética.
O seu mausoléu, um edifício de pedra vermelha e preta que alberga o corpo embalsamado de Lenine, encontra-se à sombra do Kremlin desde 1930 e tem sido uma atracção turística desde o fim da URSS, há mais de trinta anos.
Logo depois de ser declarado morto em Gorki, em 21 de janeiro de 1924, aos 53 anos, o corpo do líder da Revolução de Outubro foi preparado para um grande funeral em Moscovo, que reuniu cerca de 500 mil pessoas. Na altura, a ideia era realizar apenas os procedimentos usuais que permitissem um velório de alguns dias antes que ele fosse sepultado. Passaram-se 56 dias desde a morte até que foi tomada uma decisão para preservar o corpo por mais tempo.
Inicialmente, a ideia era congelá-lo, o que não impediria que continuasse a sofrer decomposição, embora a um ritmo mais lento. Depois, surgiu a sugestão do embalsamamento, um processo químico que permitiria perpetuar o momento da morte para sempre — ou enquanto a ciência permitir.
Mais de 200 pessoas trabalharam na operação. Órgãos internos foram retirados e o cérebro foi levado para estudos adicionais para analisar as suas “capacidades excepcionais”. Pele, ossos e tecidos foram preservados, e 18 meses em 18 meses, o corpo passa por uma nova rotina de limpeza e embalsamamento.
O mausoléu foi aberto ao público em 1 de Agosto de 1924, inicialmente em uma estrutura provisória, e em 1930 o local tomou as formas actuais, com as inconfundíveis paredes de granito e mármore.
Desde então, o corpo foi retirado apenas uma vez, em 1941, durante a Segunda Guerra Mundial quando a capital russa foi atingida pelos bombardeamento da Alemanha nazi. Lenine permaneceu na na cidade de Tyumen, na Sibéria, até o fim do conflito, quando o mausoléu foi reaberto.
Hoje, quem quiser visitar o corpo de Lenine precisa passar por uma inspeção de segurança que veta a entrada de câmeras e telemóveis.
Em 2016, um relatório do governo russo revelou que o custo anual para manter o corpo embalsamado era de 13 milhões de rublos, o equivalente a 200 mil dólares, um valor questionado por liberais que querem pôr fim ao gasto, e mesmo por comunistas que dizem que o líder soviético não gostaria de ser eternizado como um “ídolo”.
Estudos nos últimos anos, mostram que mais de 60% dos russos querem que ele seja enterrado, mas o presidente Vladimir Putin sinalizou, em 2019, que isso não acontecerá tão cedo. “Não devemos enterrar Lenine enquanto ainda houver pessoas que conectem as suas vidas com isto, com as conquistas do passado”, disse o presidente Putin, que hoje não esconde as suas divergências com o pensamento leninista, inclusive sobre a Ucrânia.
Mas Lenine não é o único líder comunista embalsamado. Na China, Mao Tsé-Tung está num memorial em Pequim. Na Coreia do Norte, o Palácio do Sol Kumsusan guarda os corpos de Kim Il-sung e Kim Jong-il, em Pyongyang, e no Vietname, Ho Chi Minh repousa num memorial que leva o seu nome, em Hanói. Em 2013, o governo da Venezuela sinalizou que o corpo de Hugo Chávez, morto naquele mesmo ano, também seria embalsamado, mas o plano foi abandonado após os especialistas russos assegurarem que o processo seria impossível devido a uma série de “questões técnicas”.