Coligação de esquerda vence surpreendentemente 2ª volta das legislativas francesas
Os eleitores franceses voltaram às urnas este domingo, dia 7, para a segunda volta das eleições legislativas e confirmaram-se o prognóstico, nas derradeiras sondagens, de ausência de maioria absoluta. Mas não o de uma vitória do Rassemblement National (RN), a formação de extrema-direita de Marine Le Pen e Jordan Bardella.
Ao início da noite de ontem, perante as projeções que o remetiam para um terceiro lugar, Bardella queixava-se de “alianças desonrosas”. Já Jean-Luc Mélenchon, rosto da Nova Frente Popular (NFP), vencedora das legislativas, apontou ao Eliseu: Macron tem agora “o dever” de chamar esta coligação “a governar”.
Contenção de danos. Foi esta a palavra de ordem no quartel-general do RN, logo que as projecções de resultados relegaram o partido da extrema-direita para um inesperado terceiro lugar, uma semana depois de uma primeira volta que parecia prometer um triunfo.
O presidente do partido, Jordan Bardella, começou por agradecer aos eleitores pelo que descreveu como uma “onda patriótica”. Apressou-se, todavia, a apontar o dedo a “alianças desonrosas” à esquerda. “Infelizmente, alianças desonrosas estão esta noite a privar a política francesa de uma recuperação. Esta noite, os acordos eleitorais estão a atirar a França para os braços da extrema-esquerda de Jean Luc Mélenchon”, reagiu o candidato da direita radical.
“Apesar de uma campanha de segunda volta marcada por alianças contranatura, que procuraram de todas as maneiras impedir os franceses de escolher livremente uma política diferente, o Rassemblement National realizou hoje [ontem] o avanço mais importante de toda a sua história”, quis ainda propugnar Jordan Bardella no pavilhão de Chesnaye du Roi, no sudeste de Paris. “Tendo em conta a política que vai ser aplicada nos próximos meses e que não vai responder a nenhuma das preocupações dos franceses, o RN incarna a única alternância perante o partido único”, referiu.
Depois foi a vez de Marine Le Pen. A figura de proa do Rassemblement abeirou-se dos jornalistas, arrebatando um microfone da TF1, para exclamar: “A nossa vitória fica apenas adiada.” Le Pen tratou de agitar a ideia de que o seu é “o primeiro” partido em França: “A maré está a subir. Ela não subiu assim tão alto desta vez, mas ela continua a subir e, consequentemente, a nossa vitória é apenas adiada. Tenho demasiada experiência para ficar desiludida por um resultado em que duplicamos o nosso número de deputados.”
Emmanuel Macron não deve contornar a nossa vitória
Já com um mar de apoiantes da NFP a afluir à Praça da República, no coração de Paris, antes mesmo de o RN reagir, Jean-Luc Mélenchon, líder do partido de extrema-esquerda França Insubmissa, contraforte do bloco da NFP, orientava baterias para o Palácio do Eliseu. Emmanuel Macron, disse Mélenchon, “deve curvar-se e admitir a sua derrota sem tentar contorná-la” e encarregar a NFP de formar governo.
Numa intervenção ao país, o ainda primeiro-ministro Gabriel Attal anunciou que tenciona apresentar já esta segunda-feira [hoje] a sua demissão do cargo de primeiro-ministro ao presidente da República. Tratou
de garantir, ainda assim, estar preparado para assegurar a gestão corrente enquanto não for nomeado um novo chefe de governo.
“Esta dissolução não a escolhi”, atalhou o governante francês. “Esta noite, nenhuma maioria absoluta pôde ser obtida pelos extremos”, assinalou Attal, para frisar, adiante, que “ser primeiro-ministro” foi “a honra” da sua vida. “Assim, fiel à tradição republicana, entregarei amanhã a minha demissão ao presidente da República. Assumirei, evidentemente, as minhas funções enquanto o dever o exigir.” E terminou: “Esta noite começa uma nova era”, rematou, acrescentando que o destino de França se decide “como nunca no Parlamento.”
Os números
De acordo com o resultados finais, a NFP obteve 182 lugares no parlamento de 577 lugares, a aliança de centro do presidente Macron obteve 158 lugares e o RN e os seus aliados, obtiveram 143 lugares. Já os Republicanos e outros partidos de direita confirmaram os 67 lugares.
Pouco depois da divulgação das projecções, em comunicado, o Palácio do Eliseu vinha deixar claro que o presidente iria aguardar a “estruturação” do Parlamento, no seguimento do escrutínio, antes de “tomar as decisões necessárias”. O que, na prática, poderá empurrar uma clarificação para o próximo dia 18 de Julho. Indicava ainda o Eliseu que Emmanuel Macron optaria por uma postura de “prudência” face à distribuição de forças emanada do processo eleitoral.