ANC lidera contagem de votos, mas bem longe da maioria absoluta

A contagem dos resultados das 7ª eleições gerais na África do Sul prosseguem a bom ritmo. Às 14h00 locais (13h00 de Luanda) estavam processados cerca de 20% do total dos votos. O ANC, partido no poder, liderava com 44% – bem longe da maioria absoluta ambicionada –, seguido da Aliança Democrática (DA, sigla em inglês) com 25%. Em terceiro lugar seguia o partido radical de esquerda, o EFF de Julius Malena, com cerca de 9%, enquanto o partido uMkhonto weSizwe (MK Party) do antigo Presidente Jacob Zuma, estava com cerca de 8%.

Assim, de acordo com estes resultados parciais, o ANC provavelmente perderá a maioria parlamentar pela primeira vez desde que Nelson Mandela levou o partido à vitória, após o fim do sistema racista do apartheid, em 1994.

Zuma esmaga ANC no Kwazulu-Natal

O ANC está a sofrer grandes perdas para o MK, especialmente na província do KwaZulu-Natal – a segunda mais populosa do país – onde o partido de Zuma lidera com 43% dos votos contra 21% do ANC. Zuma está a mostrar toda a sua força em casa, relegando inclusivamente o histórico Inkatha Freedom Party (IFP) para os 15%, a votação mais baixa deste partido que vive do voto étnico dos zulus.

Embora Zuma tenha sido impedido de se candidatar ao parlamento devido a uma condenação por desrespeito ao tribunal, o seu nome continua a circular nos boletins de voto como líder do MK. Se o MK vencer em KwaZulu-Natal, como é provável, será uma “grande reviravolta” e anunciará a “potencial dizimação” do ANC na província, adiantou à BBC o analista político William Gumede.

O ANC também corre o risco de perder a maioria no coração económico de Gauteng, onde ficam as cidades de Pretória e Joanesburgo. Neste momento o partido tem actualmente 36% contra 29% do DA.

Jovens querem mudanças

Os principais problemas dos sul-africanos são a corrupção generalizada, os elevados níveis de desemprego e a criminalidade desenfreada.

Um funcionário eleitoral em Joanesburgo disse à BBC que as filas faziam lembrar as históricas eleições de 1994, quando os negros puderam votar pela primeira vez. Sifiso Buthelezi, que votou em Joubert Park, em Joanesburgo – a maior secção de voto da África do Sul – disse à BBC: “A liberdade é óptima, mas temos de combater a corrupção.”

A mudança é um sentimento que percorre o espírito de muitos, especialmente entre os jovens eleitores. Ayanda Hlekwane, um dos membros da geração “nascida livre”, ou seja, pós-apartheid, disse que, apesar de ter três licenciaturas, continua desempregado. “Estou a trabalhar na minha proposta de doutoramento para voltar a estudar, caso não consiga um emprego”, afirmou, à BBC, em Durban. Mas Hlekwane mostra-se optimista quanto à possibilidade de as coisas mudarem.

“Estamos a entrar na próxima fase da nossa democracia e vai ser uma grande transição”, adiantou o analista político Richard Calland à BBC. E acrescentou: “Ou nos tornamos uma democracia mais competitiva e madura, ou a nossa política vai ficar mais fracturada.”

Quem irá fazer pacto com o ANC?

O principal partido da oposição, a Aliança Democrática (DA), assinou um pacto com 10 outros partidos, concordando em formar um governo de coligação se obtiverem votos suficientes para desalojar o ANC do poder.

Mas tal é altamente improvável, uma vez que se espera que o ANC continue a ser o maior partido, o que o coloca na pole position para liderar uma coligação se o seu apoio descer abaixo dos 50%.

De acordo com o sistema eleitoral do país, os sul-africanos não votam directamente numa figura para a presidência, mas sim nos membros do parlamento que, por sua vez, elegem o chefe de Estado. Assim, é provável que o actual presidente, Cyril Ramaphosa, se mantenha no cargo. Um número recorde de 70 partidos e 11 independentes concorreram, com os sul-africanos a votarem para um novo parlamento, nove governos provinciais e centenas de municipalidades.

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