África do Sul vai a votos a 29 de Maio
O chefe de Estado sul-africano, Cyril Ramaphosa, anunciou hoje, quarta-feira, dia 21, a data de 29 de Maio para a realização das eleições gerais que elegerá um novo Parlamento, e, consequentemente, um novo presidente. Pela primeira vez na história, o Congresso Nacional Africano (ANC) poderá perder a sua maioria absoluta.
São cerca de 27,5 milhões os sul-africanos inscritos nos cadernos eleitorais para irem às urnas. O Presidente Cyril Ramaphosa apelou aos eleitores que ainda não se tinham recenseado para o fazerem online. “Para além do cumprimento da nossa obrigação constitucional, estas próximas eleições são também uma celebração da nossa jornada democrática e da determinação de [escolher] o futuro que queremos”, segundo um comunicado do seu gabinete.
“Apelo a todos os sul-africanos para que exerçam o seu direito democrático de voto e a todos os que vão integrar a campanha eleitoral para que o façam de forma pacífica e no pleno respeito pela lei”, acrescentou.
O desemprego endémico, a pobreza crescente e o aumento da desigualdade neste país de quase 62 milhões de habitantes estão a alimentar um descontentamento crescente que poderá refletir-se nas urnas.
A maioria absoluta do ANC está ameaçada
De acordo com as sondagens de opinião, o partido no poder desde as primeiras eleições democráticas do país, em 1994, poderá, pela primeira vez, perder a sua maioria absoluta no Parlamento e ver-se obrigado a formar um governo de coligação. A imagem do partido, com 110 anos de existência, tem sido manchada pela corrupção, pelo clientelismo e por um mau desempenho económico.
No entanto, o ANC continua a ser uma fonte de orgulho para muitos sul-africanos pelo seu papel na luta anti-apartheid. Cyril Ramaphosa deverá apresentar o programa do seu partido num grande comício marcado para o dia 24 de Fevereiro no estádio de Durban, a capital da província-chave de KwaZulu-Natal (leste), que conta com o maior número de eleitores.
Actualmente, o ANC detém 230 dos 400 lugares (57,50%) no Parlamento, a Aliança Democrática (DA) 84 (20,77%) e os Combatentes da Liberdade Económica (EFF) 44 (10,79%).
Não há acordo entre a DA e o EFF
A DA já que deu início à sua campanha eleitoral no último fim de semana de 17 de Fevereiro. O principal partido da oposição, que continua a ser visto como o partido dos brancos, irá concorrer numa coligação com dez pequenos partidos. O seu líder, John Steenhuisen, prometeu criar dois milhões de empregos, acabar com a crise energética e reduzir a criminalidade no país, onde, nos últimos três meses de 2023, foram registados quase 84 assassinatos por dia.
Steenhuisen congratulou-se com o anúncio da data das eleições: “Estas eleições são um ponto de viragem para a África do Sul e surgem numa altura em que a nossa nação mais precisa delas em três décadas”, afirmou, acusando o ANC de “gestão danosa”.
Algumas sondagens mostram a DA a par com o segundo maior partido da oposição, o EFF, de esquerda radical, no segundo lugar, atrás do ANC.
Steenhuisen excluiu recentemente a possibilidade de uma coligação com o ANC, afirmando que queria “expulsar” o partido do poder, e recusou-se firmemente a coligar-se com o EFF, alegando profundas diferenças de “valores e princípios”.
A 10 de Fevereiro, o líder da EFF, o polémico Julius Malema, lançou a campanha do seu partido, inspirada no marxismo-leninismo, acusando o ANC de inércia face aos males do país. “29 de Maio de 2024, aqui vamos nós. É agora ou nunca. A vitória é certa”, publicou nas redes sociais a 20 de Fevereiro.