África do Sul e Namíbia testam a semana de trabalho de quatro dias

Com o objectivo de revolucionar os hábitos de trabalho, estão a ser organizados ensaios em todo o mundo para introduzir uma semana de trabalho de quatro dias. No continente africano, esse modelo está a ser ensaiado em dois países: Namíbia e África do Sul.

Na Namíbia, o objectivo deste modelo é dedicar menos um dia da semana ao trabalho, em troca de uma maior produtividade, mantendo o mesmo salário. Jonas Ileka, que dirige o projecto na Namíbia, explica, à RFI, a iniciativa. “Somos sempre os últimos a participar neste tipo de iniciativas, apesar de a semana de quatro dias ser um conceito inovador que visa melhorar a produtividade e o bem-estar dos funcionários. Demasiadas vezes, a experiência piloto é feita nos países ocidentais e depois temos de adaptá-la e aplicá-los ao nosso contexto”, afirma.

“É claro que já há vozes que dizem que não vai funcionar. Isso é normal. A primeira reacção à mudança é sempre o cepticismo e o medo. Por isso, o nosso objectivo é explicar às pessoas, ajudá-las a compreender este regime de quatro dias. É uma estratégia para melhorar uma empresa, concentrando-se na produtividade e, em particular, na eficiência operacional. Retira-se tudo o que não é necessário, muda-se a mentalidade e incentiva-se os funcionários, com um dia extra de folga, explicando-lhes que, se conseguirem fazer 100% das suas tarefas em menos tempo, não precisam de ficar no escritório só a fazer figura de corpo presente”, refere Ileka à RFI.

“Claro que não vai funcionar para todas as empresas, mas queremos recolher os nossos próprios dados aqui na Namíbia e, mesmo que não estejamos prontos, sermos capazes de avaliar os resultados e o que precisa de ser melhorado para sermos mais produtivos e permitir que as pessoas trabalhem menos.”

“Os nossos funcionários melhoraram a sua saúde mental”

O outro país do continente a efectuar esta experiência é a vizinha África do Sul. Realizado em 2023, a experiência da semana de quatro dias reuniu 28 empresas sul-africanas, principalmente do sector dos serviços, durante um período de seis meses, envolvendo quase 500 trabalhadores.

Duas empresas abandonaram a meio a fase de testes. Mas para as restantes, Mark Smith, actual diretor de programas da EM Lyon, que supervisionou a experiência no ano passado, acredita que os resultados são conclusivos: “Os funcionários e os gestores têm uma maior sensação de bem-estar do que antes. Encontraram eficiência na forma como trabalham, na organização de reuniões e também utilizaram mais eficazmente as ferramentas da empresa para optimizar as actividades.”

Algumas empresas ficaram tão convencidas que continuam a funcionar segundo este modelo. É o caso da empresa de TI Elnatan. “Os nossos funcionários viram a sua saúde mental melhorar e estão mais envolvidos no desenvolvimento da nossa cultura empresarial. A satisfação dos nossos clientes manteve-se estável durante toda a experiência e continua a ser um sucesso, com todos a conseguirem manter-se assim”, afirmou Annerike Meiring, directora de recursos humanos:

No entanto, noutros sectores, algumas pessoas que não participaram no ensaio são mais cépticas, como Ndima Rawana, chefe de recursos humanos do grupo cimenteiro PPC. “Penso que coloca mais pressão sobre nós para mantermos a mesma carga de trabalho que alguns de nós já estavam a lutar para conseguir em cinco dias. Podemos visar os mesmos objectivos simplesmente introduzindo mais flexibilidade na nossa forma de trabalhar”, confessa.

Em breve, deverá ser organizado um novo teste no país, com a esperança de convencer as grandes empresas de sectores mais variados.

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