“A música de Azagaia é eterna”
Hoje, quando forem 21h00, “Tributo a Azagaia” sobe ao palco da Casa Independente, em Lisboa. O concerto, uma homenagem ao rapper moçambicano Azagaia falecido no passado dia 9 de Março, irá contar com muitos nomes da lusofonia, entre eles, Paulo Flores, Sérgio Godinho, João Afonso, Valete, Prodígio, Ikonokasta, etc. Para perceber melhor o que vai acontecer, falámos com a Magda Burity da Silva, (lusa, angolana e moçambicana), – em tempos foi agente de Azagaia – a quem está a cargo a curadoria do espectáculo.
– Como surgiu a ideia deste espectáculo em homenagem ao músico Azagaia, em Lisboa?
Estávamos bastante consternados com a notícia da morte do Edson [Azagaia], sem saber como reagir. Menos de uma semana depois, recebi uma chamada da angolana Lídia Amões, amiga do Azagaia e ligada ao rap em Angola durante muitos anos, que me disse que o Valete tinha sugerido o meu nome para fazermos um tributo. Foi tudo muito orgânico, não planeámos nada. Transformámos a dor em Amor. A Inês Valdez, proprietária da Casa Independente em Lisboa, juntou-se a nós e eu sugeri o Milton Gulli, músico e produtor do álbum Cubaliwa [um dos álbuns de Azagaia], para fazer a curadoria dos músicos.
– Quantas nacionalidades de músicos vão estar em palco?
Vão estar em palco cinco nacionalidades e origens. Angola, Portugal, Guiné-Bissau, Moçambique e Portugal. Um concerto da lusofonia.
– E quem são os angolanos?
O grande Paulo Flores, que disse logo que sim, o rapper Prodígio, o activista e rapper Ikonokasta, Phoenix RDC que tem uma grande história de superação, e Prince Wadada. Tentámos ao máximo que o MCK viesse, mas Angola parou por causa dos feriados e o visto dele não foi emitido a tempo. Vamos ainda ter testemunhos do Kid Mc, rapper angolano e do MCK. Vai ser um concerto interativo com muitas mensagens provenientes de várias partes do mundo.
– Sabemos que Azagaia tinha uma ligação especial a Angola. Com que músicos angolanos ele interagia mais?
O MCK. Nutriam um grande respeito um pelo outro. O Kappa era como um irmão mais velho para o Azagaia. Uma vez, em 2014, estive num concerto com os dois e foi inexplicável a química em palco e nos bastidores. Eram mesmo muito parceiros. Há uma música celebre de ambos “Países do Medo”, também com a participação do Valete que explodiu na altura e acompanhei todo o processo criativo que denunciava a corrupção transversal aos três países. Achei-os corajosos!
– O concerto vai integrar estilos de música muito diferenciados.
Sim. Desde o início que nos concentrámos no propósito do Azagaia e não no seu estilo musical. Basta ouvir os coros das suas músicas para entender a sua diversidade lírica e como pensava as suas composições. Não era um rapper do mainstream. Aliás, não é, porque a sua música é eterna e mantém-se palavra de ordem. Ele é um músico africano que cantava rap com expressões moçambicanas. O país que mais amava e lutou até partir, o seu berço…
– Tu, que conheceste muito bem o Azagaia, o que achas que ele diria após assistir a este concerto em sua homenagem?
M! Era assim que ele me chamava quando concordávamos em tudo, (risos) nadaaa, isto não está a acontecer! Ele era muito espontâneo e divertia-se com os resultados. Reporto ao tempo que trabalhávamos juntos, entretanto amadureceu, mas nunca perdeu o brilho nos olhos e a esperança de que a cada concerto mudar mentalidades. Não era muito de falar de si. Acho que ia sorrir e durante as semanas seguintes íamos falar de uma ou outra situação do concerto e pensar no próximo e na estratégia. Esse era o Azagaia.