África precisa de 100 mil milhões USD anuais para combate às alterações climáticas

África precisa de mais de 100 mil milhões USD por ano até 2030 para fazer progressos na mitigação e adaptação às alterações climáticas, segundo o economista-chefe e responsável de Estratégia, Análise e Investigação do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

Em entrevista ao jornal Ahram Online nas Maurícias, à margem da Conferência Económica Africana (AEC 2022), acrescentou que as soluções adequadas ao tema do clima são fundamentais para que a África possa ultrapassar os graves impactos das alterações climáticas, especialmente no meio dos actuais desafios económicos globais causados pela pandemia e pelo conflito Rússia-Ucrânia.

“A África é responsável por menos de 4% das emissões globais de gases com efeito de estufa. Embora não tenha contribuído significativamente para o problema das alterações climáticas, recebe a menor parte das finanças globais dedicadas à acção climática. A África não pode continuar a depender do mundo desenvolvido, temos de ser capazes de pensar de forma criativa”, disse Gilpin.

Os fluxos de financiamento para África não têm correspondido aos compromissos assumidos pelos países desenvolvidos e nem às necessidades de adaptação e mitigação do continente.

De acordo com o Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), a quota da África no total do financiamento global do clima cresceu em média apenas 3% durante 2010-2019, de 23% (48 mil milhões USD) em 2010-2015 para 26% (73 mil milhões de USD) em 2016-2019.

Dados os recursos necessários para cumprir as metas de Contributos Nacionais de África – estimadas em 118,2 a 145,5 mil milhões de USD por ano até 2030 – são necessárias mais medidas concretas para fechar o fosso anual de financiamento climático de África, de acordo com o BAFD.

Gilpin também discutiu o papel que a 27ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP27) desempenhou ao mostrar a grave ameaça que o continente está a sofrer e como os esforços de acção climática em África têm sido afectados pela crise global em curso.

“A expectativa era realmente elevada. Foi chamada a COP africana. Mas, no final do dia, não saímos de lá com fortes declarações ou forte consenso sobre o caminho a seguir para garantir que evitávamos o desastre climático. Contudo, conseguimos algum consenso que se traduziu na criação do fundo de perdas e danos e a esperança é que este não se torne uma expressão de intenções, mas que os países contribuam efectivamente para o fundo e que sejam criados mecanismos para obter os recursos de que precisamos o mais rapidamente possível”, explicou Gilpin.

“Ter a COP27 no Egipto também foi simbólico porque mostrou como as alterações climáticas contribuem para a desertificação que o continente está a sofrer. Demonstra também a necessidade de alcançar um consenso global para resolver este problema, porque não é apenas um problema do Egipto ou um problema africano, mas é um problema global”, Gilpin observou ainda.

O número de pessoas que se deslocam para procurar protecção e melhores meios de subsistência irá aumentar de 1,5% da população africana actual para cerca de 5% até 2050 (cerca de 113 milhões de pessoas), de acordo com o relatório African Shifts recentemente publicado pela Iniciativa Africana de Mobilidade Climática.

O relatório indicava também que até 2,5 milhões de pessoas poderiam abandonar as zonas costeiras de África devido à subida do nível do mar e a outros factores de stress, e que o movimento de pessoas através das fronteiras em resposta às alterações climáticas está previsto atingir 1,2 milhões de pessoas até 2050, num cenário de elevadas emissões de gases com efeito de estufa.

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