Vários civis mortos após confrontos com a polícia em Madagáscar

Pelo menos onze pessoas foram mortas ontem (segunda-feira, 29 de Agosto) em Madagáscar, após elementos da polícia, alegando legítima defesa, terem aberto fogo sobre uma multidão em fúria que protestava junto de uma esquadra contra um caso de rapto de uma criança albina, avançou a AFP.

O caso aconteceu em Ikongo, no sudeste de Madagáscar, a 350 quilómetros da capital Antananarivo. O número de mortos varia de acordo com as fontes, indicando uma fonte hospitalar terem morrido 18 pessoas.

Um médico do hospital local, para onde as vítimas foram transportadas, contactado pela AFP, referiu que 18 pessoas haviam sido mortas – nove delas morreram nas instalações de saúde – e 34 feridas. “Nove estão entre a vida e a morte”, disse o Dr. Tango Oscar Toky. A polícia adiantou um número inferior: 11 mortos e 18 feridos.

Desde a semana passada que a população de Ikongo está em choque com o desaparecimento de uma criança albina. As autoridades suspeitam de rapto para fins obscuros. Neste país da África Austral, as pessoas com albinismo são regularmente alvo de violência, muitas vezes por causa de certas crenças tradicionais. Mais de uma dúzia de raptos, ataques e assassinatos foram relatados nos últimos dois anos em Madagáscar, de acordo com a ONU.

Em relação a este caso, na sequência das investigações levadas a cabo pela polícia, foram detidos quatro suspeitos, mas ontem a população decidiu fazer justiça pelas suas próprias mãos, invadindo a esquadra onde estavam detidos os suspeitos. “Exigiram que os quatro suspeitos lhes fossem entregues”, disse Jean Brunelle Razafintsiandraofa, um deputado distrital, à AFP. Segundo uma fonte policial, pelo menos 500 pessoas, algumas munidas de armas brancas e catanas, cercaram a esquadra. Nessa altura, a polícia estabeleceu um perímetro de segurança e os gendarmes tentaram acalmar a população, chamando-a à razão de modo a “evitar um banho de sangue”, adiantou o Comandante Andry Rakotondrazaka numa conferência de imprensa na capital.

Quando a multidão tentou furar o perímetro de segurança, a situação descontrolou-se. A polícia utilizou gás lacrimogéneo e disparou tiros de aviso. “Mas, como último recurso, os gendarmes não tiveram outra opção senão recorrer à auto-defesa”, explicou o comandante da polícia. “Foi um acontecimento muito triste e poderia ter sido evitado, mas aconteceu”, disse.

Ao final da tarde, as autoridades ainda estavam a organizar evacuações. Alguns dos feridos tiveram de ser transportados por via aérea. A polícia malgaxe é regularmente criticada pela sociedade civil por violações dos direitos humanos, mas os seus agentes raramente são alvo de processos judiciais.

 

 

 

 

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