Um 1º de Maio ainda reprimido em 1975
Uma semana depois do 25 de Abril de 1974, enquanto em Lisboa centenas de milhares de pessoas saíam à rua pela primeira vez depois de muitas décadas de regime fascista, em Luanda, esse dia era calmo, segundo reporta o jornal “A província de Angola”: na Mutamba havia a calma habitual de um dia feriado e nos bairros africanos a vida decorria normalmente, sem os mínimos sinais próprios de uma data comemorada mundialmente. Até esse ano a data era dedicada a São José Carpinteiro e não eram permitidas manifestações.
O Lobito, ao contrário, reporta o jornal, acordou com muitos trabalhadores nas ruas, sobretudo da comunidade branca, que se manifestaram, mobilizados pelos sindicatos portugueses SNECIPA – Sindicato Nacional dos Empregados do Comércio e Indústria da Província de Angola e Sindicato dos Bancários, que tinham nessa altura alguma acção sindical, quando a UNTA-União Nacional dos Trabalhadores Angolanos ainda não tinha implantação no interior de Angola. Centenas de milhares de trabalhadores negros não eram sindicalizados e nas empresas raramente passavam de cargos de serventes e auxiliares.
Mas foi por intermédio do SNECIPA que os trabalhadores negros foram mobilizados para a luta laboral no Lobito e no Huambo. Em Setembro de 1974 houve greves nas Câmaras Municipais do Huambo e do Lobito, por melhores condições laborais. Os trabalhadores africanos começavam a ganhar consciência das desigualdades gritantes com os seus colegas brancos. Os trabalhadores africanos do Porto do Lobito também se ergueram numa greve contra as condições laborais e num repente o movimento grevista alastra para Luanda.
Só um ano mais tarde Luanda, onde se instalara uma verdadeira turbulência política, se prepara para um grande acto de massas trabalhadoras, que começava a inverter o seu foco da exploração colonial para o novo Governo onde tinham assento os movimentos de libertação nacional. Naquele Primeiro de Maio de 1975, dezenas e milhares de pessoas, entre as quais nos encontrávamos, desde cedo, convergem para o Largo no início da estrada de Catete, mobilizadas pela UNTA e pela extrema-esquerda do MPLA, organizada nos Comités Henda e nos Comités Amílcar Cabral (CAC).