Saída da USAID de África poderá aumentar as violações dos DH, revela estudo

Uma investigação do Instituto de Estudos de Segurança (ISS), uma organização africana que visa melhorar a segurança humana no continente e que tem sede em Pretória, na África do Sul, indicou esta quinta-feira, dia 6, que a suspensão das actividades da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) pode aumentar o risco das violações dos direitos humanos.
“A interrupção do financiamento da agência, imposta pelo Presidente norte-americano, Donald Trump, pode aumentar o risco das violações dos direitos humanos e diminuir a confiança dos cidadãos nos seus governos, deixando os países mais vulneráveis a um extremismo ainda mais violento”, indicou o investigador Kelly Stone no artigo, citado pela agência Lusa.
“Os grupos terroristas exploram frequentemente os baixos níveis de confiança dos cidadãos, os abusos das forças de segurança e a pobreza e exclusão subjacentes como principais instrumentos de recrutamento. As consequências potenciais são alarmantes, especialmente nos países da África Ocidental, Somália e Moçambique, onde os grupos extremistas violentos causam uma violência generalizada”, lamentou Stone.
Influência da China e Rússia pode aumentar
Em 2024, os programas de apoio à democracia, aos direitos humanos, à governação e à segurança representavam 10% do pacote de ajuda a África proposto pela USAID, no valor de oito mil milhões de dólares, exemplificou.
“Os principais beneficiários da ajuda não-humanitária dos EUA foram a Nigéria (624 milhões USD), Moçambique (565 milhões de USD), Tanzânia (561 milhões de USD), Uganda (560 milhões USD) e Quénia (513 milhões de USD)”, enumerou.
Em 2022, todos os países africanos receberam, de alguma forma, ajuda dos Estados Unidos da América (EUA), variando entre 125 milhões e 500 milhões de USD e “uma retirada total ou parcial prejudicará o progresso económico e exacerbará a pobreza, agravando as crises humanitárias”, salientou Kelly Stone.
Assim, a cessação de ajuda a África “poderá criar um vazio que os rebeldes poderão explorar e comprometer a segurança”, mas também pode aumentar a influência de regimes autoritários – como a China e a Rússia – no continente, frisou.
“Isto poderá restringir o acesso dos EUA aos mercados emergentes, levando à perda de oportunidades comerciais numa região repleta de potencial e promovendo o desenvolvimento de políticas que contrariam os interesses dos EUA”, alertou o investigador.
No entanto, a política actual de Trump vê este tipo de ajuda externa como “uma despesa desnecessária”, reiterou o estudo.
De acordo com o pesquisador, o abandono do papel dos EUA em África interromperá iniciativas vitais de desenvolvimento, agravará a instabilidade e a pobreza e perturbará os alinhamentos geopolíticos.
“Considerando que Trump não visitou África uma única vez durante o seu primeiro mandato e fez declarações depreciativas sobre o continente, a sua ignorância sobre África não surpreende”, criticou. Nos primeiros dias do seu segundo mandato, Trump suspendeu toda a ajuda internacional durante 90 dias, com excepção dos programas humanitários alimentares e da ajuda militar a Israel e ao Egipto.
O secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, será o novo director interino da USAID, que acusou de estar “completamente desprovida de capacidade de resposta”, criticando a “insubordinação” naquele organismo.
Refira-se que a USAID – cuja página online desapareceu no sábado sem explicação – tem sido uma das agências federais mais visadas pela nova administração norte-americana.