Reportagem: Dificuldades de importação contribui para aumento da produção de mobília made in Angola

O fabrico de móveis por jovens de Mbanza Kongo, na sua maioria beneficiários de kits do Plano de Acção para Promoção da Empregabilidade (PAPE), ganha cada vez mais espaço com mais clientes, numa altura em que a importação de artigos de madeira a partir de países como a República Democrática do Congo (RDC), Namíbia, África do Sul, França, Portugal e outros países sofreu um agravamento das taxas aduaneiras, além da falta de divisas para a importação.
Nas marcenarias e carpintarias de Mbanza Kongo, móveis como cadeirões, camas, armários, carteiras, secretárias, mesas, portas, janelas, guarda-fatos são as mais fabricadas, constou o Jornal de Angola.
Álvaro Tomás Luyindula, 32 anos, proprietário de uma carpintaria, disse que anteriormente as pessoas adquiriam móveis e mobiliários nos países vizinhos, mas com a crise financeira, cresceu a procura de móveis fabricados na região.
Aquele mestre em carpintaria garantiu que os móveis fabricados localmente têm qualidade e durabilidade, devido à madeira empregada. “Fazemos tudo aqui. Trabalhamos a madeira, montamos os artigos, envernizamos e depois vendemos aos clientes, dos municípios do Kuimba, Nóqui, Tomboco e Nzeto”, referiu.
Álvaro Luyindula tem como sonho abrir um espaço maior. Com mais apoios, disse ser possível a concretização deste sonho. A acontecer, além de poder empregar mais pessoas, vai contribuir na redução das importações. “Muitos cidadãos deixaram de adquirir móveis e artigos como portas de madeira, mesas, cadeiras e janelas na RDC, Namíbia, África do Sul, Portugal, França e outros países, optando pela produção local”, contou.
Pelo que constatou o Jornal de Angola, os preços da venda dos imóveis confeccionados localmente variam de uma carpintaria a outra. Por exemplo, um jogo de sofás custa entre 170 a 350 mil kwanzas e uma cama casal entre 60 a 75 mil. Pela cama de solteiro o cliente pode desembolsar 50 mil kwanzas.
Um meio de sustento de muitas famílias
Outro jovem marceneiro entrevistado pelo Jornal de Angola é Vangamesa Biluka. Com 28 anos, o jovem exerce a actividade desde 2012, quando tinha apenas 17, ensinado pelo tio.
Formado no antigo Instituto Médio Normal de Educação (IMNE) em Mbanza Kongo, Vangamesa Biluka, revelou que teve de aprender a profissão de marceneiro, por, depois de concluir o ensino médio, não ter conseguido um emprego na área em que se formou.
De lá para cá nunca mais parou. Aperfeiçoou a profissão e hoje é um mestre bastante solicitado. Com o dinheiro das obras, disse, consegue sustentar a sua família.
Mas confessou que o trabalho é árduo. Uma mesa com seis lugares, por exemplo, pode levar três a quatro dias, assim como uma cama, enquanto o jogo de sofás faz duas semanas.
Vangamesa Biluka garantiu que os seus produtos podem durar mais de 20 anos porque a matéria-prima é de qualidade. “A madeira que usamos são adquiridas nas comunas do Nkiende, Madimba, Kaluka, Luvo e Kinsimba, nos municípios de Mbanza Kongo e do Tomboco”, revelou.
O problema reside em alguns instrumentos de trabalho. “Não temos fornecedores para ferramentas e os acessórios. Os contraplacados também não aparecem com facilidade”, lamentou Biluka, para quem, se todos os acessórios necessários estivessem disponíveis, o trabalho estaria mais facilitado e seria aumentada a produção.
Além disso, o trabalho é feito de forma manual. “Se tivéssemos máquina industrial, estaríamos ao nível de marcenarias ou carpintarias de províncias como Cabinda, Benguela, Uíge e Luanda, conhecidas pela qualidade do mobiliário que produzem”, disse.
Exploração da madeira
O presidente da Associação dos Vendedores de Madeira, em Mbanza Kongo, Gilberto Vungo, contou que as florestas e matas das comunas do Nkiende, Madimba, Kaluka, Luvo, Nzau -Evua e Kinsimba, municípios de Mbanza Kongo e Tomboco, possui madeira em abundante para ser explorada.
“As matas da província do Zaire possuem muitas árvores com qualidade para explorar as madeiras”, afirmou Gilberto Vungo, para quem a maior dificuldade reside na insuficiência de motosserras e as vias que dão acesso às matas.
O Jornal de Angola apurou que uma tábua de madeira de três metros cúbicos está a ser comercializados no valor de 15 mil kwanzas, um contraplacado custa 3.500 kwanzas e um barrote da mesma dimensão três mil Kwanzas.
PAPE promove emprego
António Mavakala, 32 anos, é proprietário de uma carpintaria no bairro 11 de Novembro, na cidade de Mbanza Kongo. É um dos beneficiários do kit de carpintaria disponibilizado no âmbito do Plano de Acção para a Promoção da Empregabilidade (PAPE).
Com o kit, Makavala pôde empregar na sua carpintaria mais quatro jovens, além de outros dois que estão a aprender a profissão.
“Com a chegada do kit profissional do PAPE, já é possível trabalhar a madeira, montar os artigos e envernizar com melhor qualidade”, disse o jovem, cuja carpintaria produz de tudo um pouco, desde sofás, camas e armários, às sanefas e seca loiça.
Os lucros das vendas servem para pagar os estudos dos seus dois filhos e sustentar a família, enquanto a outra é destinada à aquisição do material.
Aquele mestre em carpintaria, reprovou a atitude de alguns jovens beneficiários dos kit do PAPE, que depois de os receber optam por vendê-los. “Isso faz com que o Estado tenha algumas dificuldades em dar continuidade ao programa para contemplar outros jovens”, lamentou.
André Lukano, 26 anos, está a aprender a profissão de carpintaria numa das oficinas de Mbanza Kongo. Disse esperar que, depois de concluir a formação, também seja beneficiado com o kit profissional do PAPE, para poder criar a sua própria oficina. Lukano acredita que, com a profissão, vai conseguir organizar a vida, cobrir as principais necessidades quotidianas, bem como “ter alguma dignidade na sociedade”.
Olívia Zacarias, 30 anos, já foi contemplada com o kit de cozinha e pastelaria. Visivelmente feliz, disse que acabou de realizar o sonho de ter o seu próprio negócio.
“Estou a realizar um sonho de ter as minhas próprias ferramentas de pastelaria e cozinha, uma vez que já exerço esta actividade no bairro 11 de Novembro, zona do Nfumo, mas tinha dificuldade em adquirir o equipamento. Agora poderei exercer normalmente as minhas actividades, aumentar a qualidade e angariar novos clientes”, congratulou-se.
O jovem Mpemba Makiadi, 26 anos, formado em alvenaria explicou que decidiu frequentar o curso de pedreiro por iniciativa própria, tendo em conta as dificuldades financeiras que enfrentava. “Passava o dia todo em casa sem fazer nada, enquanto alguns amigos e o meu primo saiam para os seus postos de trabalho. Por isso, me inscrevi no INEFOP para fazer um curso. Sinto-me satisfeito e como se fosse outra pessoa”, afirmou Makiadi, apelando aos jovens que se encontram em casa a inscreverem-se num dos cursos ministrados pelo INEFOP.
António Mendes, que está a aprender a serralharia na oficina do bairro Álvaro Buta, também sonha em ser, algum dia, mestre e criar a sua própria oficina. “Muitos cidadãos têm preferência por produtos estrangeiros, pelas suas características de decoração e efeitos, mas o produto nacional é muito melhor, devido à sua resistência”, incentivou.