Região da Baixa de Cassanje vende algodão 36 anos depois

Trinta e seis anos depois, a região da Baixa de Cassanje, que se notabilizou a partir do massacre protagonizado pela tropa colonial portuguesa, pela reivindicação dos produtores em torno dos preços praticados na compra do algodão, expediu, quarta-feira, a primeira produção na região de Cunda-dya-Baze.

Os 83 camponeses que estiveram envolvidos no processo do relançamento da cultura do algodão na região do Cunda-dya-Baze, encaixaram ,com a venda do primeiro produto, um total de 2,999 milhões de kwanzas, como resultado da venda das 15 toneladas produzidas nos 30 hectares cultivados pelas famílias que se predispuseram a trabalhar no que já foi considerado o ouro branco de Angola.
A sexagenária Maria da Conceição Culete abraçou ao desafio de desbravar uma parcela de terra de onde retirou 155 quilos que, pela sua comercialização, renderam 32.500 kwanzas. Satisfeita, disse que, com o dinheiro que ganhou, vai dar resposta a muitas das necessidades da sua família e renovar as energias para a próxima campanha agrícola.

Por seu turno, o agricultor Domingos João, de 65 anos de idade, embolsou 99.330 kwanzas, ao vender 473 quilos do produto. “Estou muito feliz. Não esperava por esse resultado. Devo dizer que nós praticamente nos aventuramos, mas, hoje, estamos aqui a concretizar um sonho interrompido há mais de 30 anos. Esse gesto do Governo vai motivar os agricultores aqui da Baixa de Cassanje e vamos voltar a colorir de branco essa região, para o nosso bem”, afirmou.

O representante da empresa Investimento e Participações (IEP) Alcaal Angola, que se encarregou da compra do primeiro algodão aos camponeses, o engenheiro agrónomo Santos Gomes, anunciou que, para a próxima campanha, estão mobilizadas 400 famílias que vão trabalhar 400 hectares.

“Tivemos o inicio da produção em Fevereiro do ano em curso e terminámos em Julho, indo da preparação do solo até à época da colheita, mas, para esta nova etapa, temos um universo de preparação de terras de 400 hectares, logo, o número vai aumentar, aí teremos, também, 400 famílias, correspondendo cada família um hectare”, indicou.

O engenheiro considerou o algodão um produto bastante rentável, pelo que a Alcaal Angola projecta elevar as dimensões do projecto com o envolvimento de produtores familiares ao longo de um período de 10 anos.

Para a indústria têxtil, foram enviadas 15 toneladas das oito toneladas inicialmente previstas, que as outras quantidades vão seguir nos próximos tempos.

O director do Gabinete Provincial da Agricultura, Carlos Chipoia, disse que o momento representou a concretização do processo de produção do algodão na Baixa de Cassanje, sendo que é o primeiro ano que a empresa investidora confirma o compromisso que assumiu com os produtores familiares, pagando aquilo que cada um produziu.

“Estamos há mais de 36 anos sem ver esta grande alegria na face das pessoas. Com o compromisso que a empresa IEP assumiu, aqui no município do Cunda-dya-Baze, mais 400 famílias poderão integrar o projecto, que se vai alargar, também, ao município de Cahonbo”, afirmou.

Comentários
Loading...