Primeiro-ministro do Haiti demite-se no meio do caos

Ariel Henry, primeiro-ministro que geria interinamente o Haiti, demitiu-se ontem, segunda-feira, dia 11. Ariel Henry estava retido em Porto Rico desde a sua viagem ao Quénia, onde deveria abordar a vinda de uma força policial sob supervisão queniana.

O primeiro-ministro demissionário comunicou, à distância, a sua decisão e terá deixado indicações para uma transição pacífica do poder. “O governo que lidero não pode permanecer insensível a esta situação. Como sempre disse, nenhum sacrifício é demasiado grande para a nossa pátria, o Haiti”, afirmou.

“Saudamos a demissão do primeiro-ministro com a criação de um conselho presidencial de transição e a nomeação de um primeiro-ministro interino. Quero agradecer ao primeiro-ministro Henry por ter servido o país, pelos seus compromissos ao povo haitiano e peço que o aplaudam”, declarou o Presidente da Guiana e da organização regional CARICOM, Mohamed Irfaan Ali.

Esta segunda-feira, 11 de Março, os países das Caraíbas estiveram reunidos de urgência na Jamaica com representantes da ONU e de vários países, incluindo a França e os Estados Unidos, para tentar encontrar uma solução para o Haiti, assolado pela violência dos gangues e por uma crise de governação.

A demissão de Ariel Henry “veio abrir novas perspectivas porque até o dia da sua demissão, a situação estava bloqueada e com tendência a piorar”, adiantou o professor haitiano radicado em França, Rafael Lucas, à RFI. Questionado sobre a possibilidade de o primeiro-ministro demissionário deixar a política haitiana e se manter nos Estado Unidos, Rafael Lucas acredita que Ariel Henry não vai ter “hipótese de voltar para o Haiti porque é um dos governantes mais impopulares que houve na história do país. Até é estranho que não tenha sido assassinado, como aconteceu o Presidente Jovenel em 2021.”

O professor haitiano radicado em França mostra-se céptico quanto à possibilidade de o país organizar um escrutínio, numa altura em que grupos armados controlam o país. “É impossível organizar eleições num país em que os bandidos ocupam o Palácio de Justiça há três meses e em que também estão a ocupar quase 50% da capital. Eles estão muito bem armados, têm até carros blindados. Vai ser difícil. É uma nova Somália. Vai ser difícil restabelecer uma ordem institucional num caos desses”.

Sem eleições desde 2016, o Haiti não tem nem Parlamento, nem Presidente. O último chefe de Estado, Jovenel Moïse, foi assassinado em 2021. A onda de violência protagonizada por grupos armados aumentou quando a 28 de Fevereiro se soube que Ariel Henry, que devia ter deixado o poder a 7 de Fevereiro, nos termos de um acordo de 2022, se tinha comprometido a realizar eleições no Haiti apenas em 2025.

No início deste mês, Ariel Henry assinou em Nairobi um acordo para permitir o envio de uma força multinacional do Quénia para o Haiti.

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