Presidente sérvio critica reacções oficiais sobre tensões com Kosovo

O presidente sérvio, Aleksander Vucic, criticou “reacções oficiais de alguns responsáveis” da União Europeia (UE) sobre tensões com o Kosovo, que o levaram a considerar não participar na cimeira em Tirana, mudando de ideias para “discutir todas as questões”.
“Houve muitas questões diferentes sobre algumas das reacções oficiais de alguns responsáveis da UE sobre a questão do Kosovo e sobre a questão do diálogo e essa foi, de facto, a principal razão” disse que não participaria, disse Aleksander Vucic.
Falando aos jornalistas à entrada para o encontro de alto nível que decorre hoje em Tirana, a primeira cimeira da UE com os Balcãs Ocidentais na região, o Presidente sérvio explicou que decidiu participar, “após consultas dentro do Estado, para vir discutir todas as questões”.
“Teremos aqui uma oportunidade de, pelo menos, dizer o que pensamos sobre o assunto e explicar que continuamos empenhados no processo negocial da UE e que continuamos muito firmemente no seu caminho, mas ao mesmo tempo, iremos proteger o nosso Estado e os interesses nacionais, de acordo com a nossa Constituição”, adiantou Vucic.
O responsável acabou, assim, por participar na cimeira, depois de, na passada semana, ter dito que não o faria, apelidando o primeiro-ministro do Kosovo, Albin Kurti, de “escória terrorista” e de ter condenado a UE por apoiar a nomeação do sérvio Nenad Rasic no Governo de Pristina.
Também falando aos jornalistas à entrada para a cimeira, em Tirana, a Presidente do Kosovo, Vjosa Osmani, considerou que “este não é o local para um diálogo ou negociações entre o Kosovo e a Sérvia”, tratando-se de “um processo separado, facilitado pela UE em Bruxelas”.
“É um processo que acreditamos que deve centrar-se no reconhecimento mútuo e, ao mesmo tempo, protegê-los, preservando a integridade territorial e a soberania do Kosovo, o seu carácter unitário, bem como o seu sistema constitucional”, adiantou.
Vjosa Osmani anunciou ainda que o Kosovo irá apresentar, “até ao final deste ano”, a sua candidatura oficial para adesão à UE.
Belgrado nunca reconheceu a secessão do Kosovo em 2008, proclamada na sequência de uma guerra iniciada com uma rebelião armada albanesa em 1997 que provocou 13.000 mortos, na maioria albaneses, e motivou uma intervenção militar da OTAN contra a Sérvia em 1999, à revelia da ONU.
Desde então, a região tem registado conflitos esporádicos entre as duas principais comunidades locais, num país com um terço da superfície do Alentejo e cerca de 1,7 milhões de habitantes, na larga maioria de etnia albanesa e religião muçulmana.
O Kosovo independente foi reconhecido por cerca de 100 países, incluindo os Estados Unidos, que mantêm forte influência sobre a liderança kosovar, e a maioria dos Estados-membros da UE, à excepção da Espanha, Roménia, Grécia, Eslováquia e Chipre.
A Sérvia continua a considerar o Kosovo como parte integrante do seu território e Belgrado beneficia do apoio da Rússia e da China, que à semelhança de dezenas de outros países (incluindo Índia, Brasil ou África do Sul) também não reconheceram a independência do Kosovo.
A UE considera que a normalização das relações entre a Sérvia e o Kosovo é condição indispensável para uma potencial adesão.
No entanto, as negociações mediadas por Bruxelas permanecem num impasse, fazendo recear o regresso à instabilidade mais de duas décadas após o final do conflito.