Poetisa brasileira Adélia Prado vence Prémio Camões 2024
A poetisa brasileira Adélia Prado, de 88 anos, foi anunciada, nesta quarta-feira, dia 26, como a vencedora do Prémio Camões edição 2024. Atribuído desde 1989 a autores lusófonos pelo conjunto da obra, trata-se do mais importante galardão da língua portuguesa.
“Adélia Prado é autora de uma obra muito original, que se estende ao longo de décadas, com destaque para a produção poética”, afirmou o júri do Camões, em nota oficial. “É há longos anos uma voz inconfundível na literatura de língua portuguesa.”
Adélia Prado nasceu em 1935, na cidade de Divinópolis, em Minas Gerais. Professora de formação, exerceu o magistério durante 24 anos antes de se consagrar como escritora. O reconhecimento veio aos 40 anos, com o livro de poemas “Bagagem” (1976). Os versos chamaram a atenção do poeta Carlos Drummond de Andrade. “Adélia é lírica, bíblica, existencial, faz poesia como faz bom tempo”, escreveu ele numa crónica no ‘Jornal do Brasil’. Em 1978, Adélia escreveu “O coração disparado”, com o qual conquistou o Prémio Jabuti de Literatura, conferido pela Câmara Brasileira do Livro.
Entre poesia, prosa e antologias, Adélia já publicou mais de 20 livros. Os versos dessa católica fervorosa misturam religião, desejo e morte, falando das angústias das mulheres da família que gostam de sexo e temem a Deus.
Experiência gratificante nas redes sociais
Adélia está há mais de dez anos sem publicar — a sua última coletânea de poesia foi “Miserere”, de 2013. A poeta, porém, deverá lançar um novo livro de inéditas no segundo semestre deste ano. Intitulado “Jardim das oliveiras”, sob a chancela da editora brasileira Record. “É um livro difícil de escrever porque as experiências que produziram os poemas também foram difíceis”, contou Adélia, num depoimento nas redes sociais. “Mas tem alegria, também. Se for poesia verdadeira, não tem um que não tem alegria, pelo menos uma sombra de alegria, uma pisada na areia, uma pegada. A arte é assim, o pintor pinta um assassinato e você quer colocar na parede.”
A autora também tem emocionado os seus admiradores com leituras de seus poemas no seu perfil do Instagram. Postado no fim do ano passado, o seu primeiro vídeo teve mais de 30 mil interações. Adélia disse ter ficado “assustada e emocionada” com a repercussão.
“Fiquei alegre demais com o sucesso da primeira experiência, porque todas as pessoas que comentaram, provaram para mim, primeiro, uma coisa muito afectiva com relação a mim”, agradeceu num post. “Não houve nenhuma recusa e todos que vi que realmente é verdade: a poesia tem que fazer parte do cardápio humano.”
Refira-se que entre os angolanos loureados com o Prémio Camões contam-se Pepetela (1997) e José Luandino Vieira (2006).