Manifestantes no Quénia já pedem abertamente demissão do presidente

Diversas cidades quenianas voltaram ontem, terça-feira, dia 2, a ser palco de manifestações violentas. Na capital, Nairobi, a polícia usou gás lacrimogéneo para dispersar os manifestantes que exigiam justiça pela morte de pelo menos 39 pessoas nos protestos da última semana.

“Continuamos com os protestos hoje [ontem] porque queremos ter certeza de que as nossas preocupações são ouvidas”, disse o advogado Hussein Khalid, responsável pelo grupo de defesa dos direitos humanos Haki Africa, com sede no Quénia, citado pela agência Reuters. “Estamos a juntar-nos aos nossos companheiros que foram mortos e a exigir justiça”, acrescentou.

Em Nairobi, a polícia disparou gás lacrimogéneo contra os manifestantes, depois de estes terem ateado fogo na estrada principal que atravessa o centro da cidade e de terem atirado pedras à polícia na zona comercial central.

Ontem, muitas pessoas evitaram o centro da cidade, e as embaixadas de vários países, incluindo os EUA, a Ucrânia e a Polónia, avisaram os seus cidadãos para evitar locais com muita gente. A maioria das lojas da cidade esteve fechada e muitas colocaram guardas à porta, receando eventuais pilhagens.

A correspondente da Deutsche Welle (DW) Sella Oneko, disse ter visto “pequenos grupos de manifestantes a serem perseguidos pela polícia”, com os agentes a dispararem esporadicamente gás lacrimogéneo e a efectuarem detenções.

Os protestos voltaram a acontecer apesar de o Presidente William Ruto ter cedido à pressão dos manifestantes e desistido da impopular Lei das Finanças na semana passada.

Estima-se que pelo menos 39 pessoas terão morrido nos protestos da semana passada, vítimas da acção policial contra os manifestantes, de acordo com informações avançadas por grupos defesa dos direitos humanos, tendo mais de 300 ficado feridas.

Ruto aberto ao diálogo

Há dias, numa entrevista à televisão estatal, o Presidente William Ruto lamentou as mortes e negou ser responsável pela actuação da polícia, tendo afirmado que “não tinha sangue nas mãos”. Ruto garantiu uma investigação para esclarecer o terá acontecido e prometeu a responsabilização de qualquer polícia “que tenha agido fora da lei”.

Nos últimos protestos efectuados ontem, vários jovens exigiam a demissão do Presidente. “Os jovens não querem mais conversas. Sentem que têm sido ignorados. E notam que os políticos não se preocupam com as pessoas que sofrem”, referiu a activista Judy Achieng, da organização Saisa Place, à DW. Achieng acusa o governo queniano de pretender silenciar os jovens. “Não queremos ser censurados. Querem diálogo e no dia seguinte matam os jovens nas ruas, raptam as pessoas que criticam os novos impostos e a crise no país”, refere agastado.

Jovens desiludidos com Ruto

Os últimos acontecimentos no Quénia enfraqueceram a imagem do Presidente William Ruto, constata o correspondente da DW em Nairobi, Andrew Wasike. “Muitas pessoas morreram e o Presidente esperou quase duas semanas para agir, então, os jovens não confiam mais nele”, explicou.

Wasike diz que muitos quenianos esperavam do Presidente um pouco mais de sensibilidade: “As pessoas esperavam que aceitasse que há sequestros. Que aceitasse que estava errado, nisso e naquilo, ao invés de autodefender-se.”

William Ruto reconhece a legitimidade das manifestações dos jovens. Mas acusa gangues de criminosos de se aproveitarem das manifestações para saquear instituições públicas e privadas.

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