Estados Unidos querem intensificar relações com África e promete uma viagem de Biden à África em 2023

Biden anunciou formalmente o apoio para que a União Africana venha a ser membro permanente do G20, e ainda anunciou que a sua administração tem planos para gastar 2 mil milhões de dólares para ajudar a reforçar a segurança alimentar do continente e 165 milhões para ajudar os países africanos a realizarem eleições pacíficas e transparentes no próximo ano.

O presidente dos Estados Unidos disse, esta quinta-feira, que fará uma visita à África subsaariana no próximo ano, e será assim o primeiro presidente dos Estados Unidos a viajar para o continente africano em quase uma década.

Biden anunciou a viagem – ainda não programada – ao encerrar a Cimeira de Líderes EUA-África, altura em que sublinhou que leva muito a sério a intensificação das relações dos Estados Unidos com África, um continente em crescimento.

A promessa de uma visita surgiu quando Biden declarou aos 49 líderes reunidos para a cimeira que “a África pertence à mesa” de as conversas de importância global, e acrescentou: “Estou ansioso para vos ver nos vossos países de origem”, no final da sessão de uma cimeira de três dias.
O governo Biden usou a cimeira – uma continuação da que foi realizada em 2014 por Barack Obama – como a parte da mais recente de uma ofensiva de charme com líderes de nações africanas.

A administração Biden procura fortalecer as relações com os países africanos, já que a China ultrapassou os EUA no comércio com a África e pretende também aumentar sua presença militar.

O continente é crucial para as potências globais por causa de sua população em rápido crescimento, recursos naturais significativos e um bloco de votação considerável nas Nações Unidas.

Alguns dos chefe de Estado e de governo que participaram da cimeira deixaram claro que querem que o governo Biden evite forçá-los a escolher entre os EUA e seus concorrentes globais, nomeadamente a China, quando se trata de questões comerciais, o presidente ruandês, Paul Kagame, vocalizou isso mesmo.

“São oportunidades económicas”, disse o presidente do Níger, Mohamed Bazoum, à Associated Press. “Empresas da Turquia e da China vêm e investem no Níger em uma relação ‘win-win’ em que os dois país ganham e isto é algo que os investidores americanos também podem fazer”, disse Bazoum.

Biden anunciou formalmente na quinta-feira o apoio para que a União Africana venha a ser membro permanente do G20, e ainda anunciou que a sua administração tem planos para gastar 2 mil milhões de dólares para ajudar a reforçar a segurança alimentar do continente e 165 milhões para ajudar os países africanos a realizarem eleições pacíficas e transparentes no próximo ano.

No total, há o compromisso para que 55 mil milhões de dólares cheguem a programas governamentais em África nos próximos três anos, além dos milhões que as empresas privadas norte-americanas contam investir.

Biden reuniu com um pequeno grupo de líderes africanos em cujos países vão acontecer eleições em 2023, e falamos do presidente da República Democrática do Congo, Felix Tshisekedi, o presidente do Gabão, Ali Bongo Ondimba, o presidente da Libéria, George Manneh Weah, o presidente de Madagascar, Andry Nirina Rajoelina, o presidente da Nigéria, Muhammadu Buhari, e o presidente de Serra Leoa, Julius Maada Bio.

A Casa Branca, através de um comunicado, disse que Biden, no seu encontro com estes líderes, reflectiu sobre o estado da democracia em seu próprio país após o ataque de 6 de Janeiro do ano passado ao Capitólio, quando apoiantes do então presidente Donald Trump tentaram, pela violência, impedir o Congresso de certificar os resultados da eleição de 2020, em que Trump perdeu e Biden ganhou.
Biden também falou das recentes eleições de meio de mandato nos EUA, quando os eleitores rejeitaram vários candidatos que negaram os resultados de 2020, tudo isto para dizer que “a força e a resiliência da democracia americana foram reafirmadas no processo”.

As próximas eleições em países africanos são vistas como indicadores importantes da força da democracia em todo o continente.

A Nigéria, o país mais populoso de África, com mais de 210 milhões de habitantes, já entrou em turbulência pré-eleitoral. A Nigéria vai ter eleições em Fevereiro.

A República Democrática do Congo confronta-se com o aumento da violência rebelde leste do país, o que complicará os esforços para realizar eleições, marcadas para Dezembro do próximo ano. Tshisekedi conquistou o poder em 2019 através de eleições que foram marcadas pela violência, a possibilidade de eleições pacíficas poderia consolidar o seu governo, mas não é claro que isso venha a acontecer.

A África Ocidental teve vários golpes nos últimos anos, e Burkina Faso e Mali são actualmente governados por juntas militares. Nesse contexto, as eleições no Gabão e em Serra Leoa serão marcos importantes. A Serra Leoa tem tido manifestações anti-governamentais ao longo do ano devido à alta inflação e descontentamento com o presidente Maada Bio, eleito em 2018.

Madagascar tem uma história marcada por golpes e eleições fraudulentas. O presidente Rajoelina foi eleito em 2019, substituindo um governo liderado por uma junta apoiada pelos militares. Rajoelina estará empenhado em consolidar seu governo e a democracia do país nas eleições.

Os Estados Unidos já forneceram quase 50 milhões de dólares em apoio à sociedade civil e às comissões eleitorais na Nigéria e na RDCongo.

O presidente do Senegal, Macky Sall, presidente da União Africana, em comentários na sessão de quinta-feira, agradeceu a Biden por seu compromisso com a África. Mas também disse que os países africanos enfrentam grandes desafios – desde o aumento da insegurança alimentar até melhorias das infra-estruturas necessárias para afastar o flagelo da mudança climática.

Sall criticou a legislação pendente dos EUA que, segundo ele, “visa” injustamente a África, uma aparente referência a uma medida intitulada “Combater as actividades russas malignas na África”.

Os legisladores que patrocinam o projecto de lei dizem que a legislação visa impedir que Moscovo use a África para contornar as sanções dos EUA impostas após a invasão da Ucrânia.

Sall também falou das preocupações sobre as sanções americanas contra o Zimbabué por corrupção e violações dos direitos humanos, dizendo que era hora de suspender as sanções para que a nação pudesse “lutar contra a pobreza e o subdesenvolvimento”.

Mas no início desta semana, o Departamento do Tesouro dos EUA anunciou novas sanções que visam quatro identidades no Zimbabué, e, entre eles, um dos filhos do presidente Emmerson Mnangagwa. Em causa, de acordo com as sanções, estas identidades estão a prejudicar a democracia e a facilitar a corrupção ao mais alto nível no país.

A visita de Biden à África incluirá a passagem por vários países, de acordo com uma fonte da Casa Branca que falou sob condição de anonimato, mas não foram divulgados detalhes sobre para onde ou quando Biden fará essa viagem.

Não se pode dizer que Biden não tenha estado em África durante a sua presidência, uma vez que já passou pelo Egipto, mas a próxima viagem trata-se de uma viagem à África subsaariana. Recorde-se que que Donald Trump foi o primeiro presidente desde Ronald Reagan a não visitar o Continente africano durante sua presidência, de um só mandato, é certo, e condicionada pela pandemia da covid-19.

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