Escassez de circulação da nova naïra provoca caos na Nigéria

O Supremo Tribunal da Nigéria suspendeu, temporariamente, o prazo para a saída de circulação de notas antigas de naïra, – o prazo era até sexta-feira – uma vez que esta medida estava a causar uma crise de liquidez no país.
Os bancos não têm libertado suficientes notas de novas naïra, levando a cenas desesperadas e caóticas nestas instituições. Nos ATM’s chegou-se a lutar pela posse das notas. Este caos poderá afectar as eleições marcadas para o próximo dia 23, já que muitos nigerianos não possuem conta bancária.
O chefe da comissão eleitoral adiantou mesmo que algum staff eleitoral terá de ser pago em dinheiro, o que poderá revelar-se difícil.
O Banco Central referiu que a política de redesenho e substituição da moeda, anunciada em Outubro, iria ajudar a combater a inflação, que actualmente se situa em cerca de 21%, reduzindo o montante de dinheiro em circulação. Acrescentou que 80% das notas actualmente em circulação estavam na posse das instituições financeiras. Adiantou ainda que as novas notas seriam mais difíceis de falsificar e limitariam o montante dos levantamentos a fim de promover uma sociedade sem numerário.
O prazo inicial para a retirada das notas antigas era inicialmente 31 de Janeiro, mas foi prorrogado até 10 de Fevereiro para dar aos bancos mais tempo para lançarem as novas notas. No entanto, isto não impediu o caos, que se tornou uma questão eleitoral importante.
O candidato presidencial do partido no poder, APC, Bola Tinubu, alegou que forças poderosas estavam intencionalmente a tornar o dinheiro escasso, a fim de frustrar as suas hipóteses de vitória. Um porta-voz para a campanha de Tinubu saudou a decisão do Supremo Tribunal. “O nosso povo sofreu muito devido à incompetência dos funcionários”, disse Ajuri Ngelale, citado pela BBC. Ajuri Ngelale acrescentou que o objectivo por detrás da política era “louvável”, mas que a falta de dinheiro causou “frustração legítima”, resultando em “agitação civil”. Atiku Abubakar, líder do principal partido da oposição, o PDP, apoiou a política mas disse que a mesma tinha sido mal implementada. Enquanto Peter Obi, do Partido Trabalhista, exortava os nigerianos a serem pacientes, dizendo que as reformas teriam benefícios a longo prazo.
Alguns observadores salientaram que a falta de acesso ao dinheiro poderia tornar mais difícil aos candidatos subornar os eleitores – uma prática comum no país.
A decisão do Supremo Tribunal acontece após o recurso judicial iniciado pelos estados do norte de Kaduna, Kogi e Zamfara, geridos pela APC, no início deste mês. Os seus advogados argumentaram que a política do governo tinha conduzido a uma “situação excruciante que está quase a conduzir o país à anarquia.”
O caso foi adiado para 15 de Fevereiro. Inicialmente pensou-se que a falta de liquidez se devia ao facto de as autoridades bancárias não terem distribuído notas novas suficientes. Contudo, a agência anti-fraude do país, a Comissão de Crimes Económicos e Financeiros (EFCC), partilhou recentemente informações sobre as rusgas que seus agentes tinham efectuado a gestores bancários por alegadamente estes terem entesourado novas notas em cofres em vez de as colocarem em caixas ATM ou as entregarem aos clientes.
Na semana passada, os governadores da APC encontraram-se com o Presidente Buhari e exortaram-no a repensar a política. Contudo, o Sr. Buhari reiterou o prazo, prometendo que o governo faria “tudo” para resolver as questões.
Estima-se que cerca de 40% da população adulta da Nigéria não tem uma conta bancária, especialmente os que vivem em zonas rurais.