Brasil investiu 20 mil milhões USD em Angola desde 2002

O Brasil foi o primeiro país a reconhecer a independência de Angola em 1975 e é, até hoje, dos parceiros estratégicos do nosso país. No dia em que comemora os 200 anos da sua independência, ocorrida a 7 de Setembro de 1822, o embaixador em Angola, Rafael Vidal, fala, em entrevista ao Jornal de Angola, sobre as semelhanças entre os dois países, as relações históricas e comerciais.

O Brasil já investiu mais de 20 mil milhões USD na economia angolana desde 2002, e nos últimos dois anos foram sendo resgatados os investimentos brasileiros. Actualmente, estima-se em quase 3 mil milhões USD de novos investimentos em refinarias, barragens eléctricas, fábrica de medicamentos (a primeira de Angola), uma primeira fábrica de ferro gusa, fertilizantes, além da construção de novas centralidades. No comércio, os números voltaram a crescer desde a pandemia, com uma projecção de 700 milhões USD resultantes do comércio entre Brasil e Angola, de acordo com o embaixador brasileiro em Angola, Rafael Vidal.

O diplomata recorda que o Brasil é actualmente a oitava maior economia do mundo, encontra-se em paz há mais de 150 anos, alimenta o mundo com sua agricultura, produz desde alfinetes a aviões comerciais e desenvolveu uma economia formal, inovadora e com serviços de alto nível.

No plano político, é uma democracia consolidada e plural. No campo social, uma sociedade multiétnica, inclusiva e tolerante. Na justiça, é um Estado de Direito, embora existam desafios pela frente, como a redução das desigualdades económicas, mas o Brasil conta com uma sociedade civil actuante, governo activo, um Congresso activo e um poder judiciário alerta para a defesa dos direitos de todos.

A Constituição brasileira de 1988 estabeleceu metas sociais, económicas e políticas ambiciosas e que vêm sendo cumpridas. O sistema de saúde pública, que também requer aperfeiçoamentos, já apresenta avanços em inclusão das populações desamparadas, de forma gratuita, que se assemelha gradualmente ao modelo de bem-estar social.

O mais importante: “o Brasil e os brasileiros têm consciência dos seus problemas e buscam soluções. Essas soluções são levadas ao mundo em desenvolvimento por meio da cooperação Sul-Sul, que actua em benefício do progresso social de nossos parceiros, dentre os quais um dos mais importantes é Angola”, destaca o embaixador.

Rafael Vidal garante que a actuação da diplomacia brasileira tem sido voltada para colaborar no processo de modernização da economia angolana, processo que, aliás, foi iniciado pelo Presidente João Lourenço.

“Estamos na linha de frente, por iniciativa do governo do presidente Jair Bolsonaro, de iniciativas de apoio à agricultura, como o plano de irrigação e desenvolvimento económico do Vale do Cunene, cujo acordo de base foi assinado na visita do ministro das Relações Exteriores, Carlos França, a Luanda em Junho passado, no marco da III Reunião da Comissão Bilateral de Alto Nível, prevista na parceria estratégica. Também estamos a actuar com prioridade na busca de instrumentos de financiamento de novos investimentos brasileiros em Angola, com o apoio de instituições locais, como o Banco Africano de Desenvolvimento, e o IFC, do Banco Mundial. Embora as linhas do BNDES tenham sido suspensas para todo o mundo, não apenas em África, pela necessidade de rever e assegurar a transparência das operações que foram inseridas na Lava-Jato, a diplomacia brasileira segue actuando, mas buscando fontes alternativas de financiamento, inclusive com bancos locais angolanos. No momento, estamos, por exemplo, a estruturar o projecto de investimentos em arroz com o BFA. E muitos outros exemplos estão em execução”, revela.

No próximo dia 2 de Outubro o país terá eleições presidenciais. Os dois principais favoritos são o actual Chefe de Estado, Jair Bolsonaro, e o ex-Presidente Lula da Silva. De acordo com o embaixador Rafael Vidal, independentemente de quem venha a liderar o governo,  o Brasil vai continuar a política de apoio à África, de um modo geral, e a Angola, em particular, que foi continuada quando o Presidente Bolsonaro assumiu.

Rafael Vidal assegura que a política externa do Brasil não sofreu mudança de rumo, é uma política de Estado e que vem sendo apoiada por todos os governos. As acções do governo brasileiro de fomento da cooperação, do comércio, dos investimentos, da cultura e da política seguem tão firmes como antes e dá detalhes: “Em um ano recebemos duas vezes o ministro das Relações Exteriores do Brasil, o ministro da Saúde, ministro do Tribunal Superior Eleitoral, o director da Agencia Brasileira de Cooperação, inúmeras delegações técnicas de cooperação, estabelecemos pelo menos cinco iniciativas novas de cooperação, quatro seminários comerciais, realizamos incontáveis apresentações culturais no Centro Cultural (Instituto Guimarães Rosa), o Reitor da UNILAB para novas iniciativas de cooperação educacional, inscrevemos quase 400 alunos angolanos nos cursos da UNILAB, realizámos inúmeros processos de oferta de bolsas dos programas de cooperação em graduação e mestrado, a maior doação de vacinas trivirais (1,5 milhões de doses para completar o programa de vacinação do governo João Lourenço), estamos por assinar o Acordo sobre Turismo Sustentável para investir em hotelaria na orla angolana, inaugurámos o projecto de saneamento básico de Viana com o Governo do Ceará, iniciámos um projecto de cooperação para alimentação escolar baseado nas políticas brasileiras e muito mais que não cabe aqui”.

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