As peripécias do rei Pelé na Nigéria

Pelé, por muitos considerado o melhor jogador de futebol de todos os tempos e que morreu na quinta-feira, 29 de Dezembro, no Brasil, aos 82 anos de idade, jogou em estádios de todo o mundo. Em África, a Nigéria foi bastante contemplada com o futebol do rei. Três das suas visitas nas décadas de 1960 e 1970 a Lagos, então capital da Nigéria, levaram a uma série de episódios rocambolescos.

No início de 1969, o Santos, o clube de Pelé, iniciou uma série de jogos exibição em África. No final de Janeiro, o Santos chegou à Nigéria para jogar dois particulares. O ambiente era muito tenso. Desde 1967, que a Nigéria enfrentava uma feroz guerra civil, após a declaração de secessão da região oriental, a autoproclamada República de Biafra. A 26 de Janeiro, o clube paulista defrontou a selecção nacional nigeriana a 26 de Janeiro. Pelé marcou dois golos, terminando o jogo empatado e bolas. Um segundo jogo teve lugar a 4 de Fevereiro em Benin City, perto de Biafra. O Santos venceu por 2-1 a equipa local.

Correu a notícia que foi obtido um cessar-fogo de 48 horas entre os beligerantes para permitir que o jogo se realizasse. Pelé não mencionou este episódio na sua primeira autobiografia, publicada em 1977. Noutro livro, publicado em 2007, confidenciou: ‘Não sei se é inteiramente verdade, mas os nigerianos certificaram-se de que os biafrenses não iriam invadir Lagos enquanto lá estivemos.’

Contudo, esta versão foi contestada por Olaojo Aiyegbayo, um investigador de origem nigeriana da Universidade de Huddersfield em Inglaterra. Após aturada investigação referiu que não tinha encontrado vestígios desta hipotética cessação das hostilidades.

Disfarçado do piloto para fugir ao golpe
Em Fevereiro de 1976, Pelé, já ao serviço do New York Cosmos, dos EUA, regressou a Lagos numa viagem patrocinada por Pepsi. Iria jogar um jogo amigável e participar na abertura de escolas de futebol.

Nessa altura, o brasileiro não era a única figura desportiva na capital nigeriana. Lá encontravam-se também os famosos tenistas Arthur Ashe e Stan Smith, a participar num torneio exibição, ficando todos hospedados no mesmo hotel.

A 13 de Fevereiro de 1976, o General Murtala Mohammed, então no poder na Nigéria, foi assassinado por homens armados. À cabeça do comando estava Bukar Dimka, um tenente-coronel de 33 anos, cuja tentativa de tomar o poder foi rapidamente esmagada.

Pelé, no meio da confusão, refugiou-se na embaixada brasileira. Face ao impasse da situação, as autoridades brasileiras engendram um plano de fuga para o astro. Assim, foi disfarçado de piloto de avião que a estrela do futebol conseguiu voar para fora de Lagos.

Emprestado por 45 minutos ao Fluminense
Dois anos depois, Pelé regressou à Nigéria, numa viagem patrocinada por uma marca de electrodomésticos. Em Lagos, estava também a equipa brasileira do Fluminense para um jogo amigável. Aproveitando esta coincidência, as autoridades locais ofereceram a Pelé a oportunidade de dar início ao jogo entre a equipa brasileira e um clube local, Racca Rovers.

Rapidamente se espalhou o rumor de que Pelé iria jogar. O fervor e a venda de bilhetes foram tais que a polícia, com receio que ocorresse uma desordem pública, convenceu “o rei” a jogar. Foi assim que Pelé jogou 45 minutos com a camisola Fluminense.
Em 2018, escreveu na sua conta do Twitter. “Uma vez joguei, acidentalmente, pelo Fluminense! Como convidado de um jogo na Nigéria. Veio tanta gente ver-me que a polícia me obrigou a jogar para manter a ordem.” “O Flu teve a honra de ter o Rei do Futebol por um dia.”

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