Apenas 13% dos 12,7 mil milhões USD registados na AIPEX resultaram em investimento em cinco anos

O baixo volume do valor dos projectos implementados é atribuído a vários factores. A burocracia e a falta de infra-estruturas em algumas regiões do País são apontadas como os factores determinantes na retracção do investimento. Em cinco anos, de um total de 12,7 mil milhões de dólares anunciados apenas 1,6 mil milhões foram finalizados.

Apenas 13%, ou seja, 1,6 mil milhões USD, do valor total das propostas de investimentos registadas na Agência de Investimento Privado e Promoção das Exportações (AIPEX), entre 2018 e Julho de 2023, resultaram em investimentos efectivos. Contas feitas, nos últimos cinco anos registou-se uma média de investimento anual de 330,4 milhões de dólares.

Durante o período em análise, de acordo com os dados da AIPEX, 642 projectos de investimento de 14 sectores de actividade foram submetidos à agência, mas em cinco anos apenas foram concretizados 183, avaliados em 1,6 mil milhões USD.

Dos 642 projectos registados na AIPEX, 436 propostas, com um valor de 9,6 mil milhões USD, estão em implementação ou aguardam a sua implementação, enquanto 12 foram cancelados e 11 foram suspensos, ou seja, os investidores recuaram. Em termos práticos, cerca de 1,4 mil milhões USD já foram descartados.

Ainda sobre a evolução do número de projectos, em cinco anos de existência da AIPEX, que nasceu das cinzas da APIEX, o ano de 2019 foi o que maior número de propostas registou, 168 no total, enquanto 2021 foi o pior com apenas 100 projectos submetidos e validados pelo regulador do investimento privado em Angola.

A culpa, de acordo com especialistas, é das consecutivas recessões que a economia angolana viveu nos últimos anos e de um ambiente de negócios cada vez mais difícil para o investimento privado.

“Não se pode falar de atracção de investimentos para um mercado com falta de infra-estruturas como Angola”, lembra o empresário do imobiliário Cleber Corrêa, sublinhando que “os países africanos para desenvolverem-se devem ter capital a fundo perdido, onde o contemplado é beneficiado com mais crédito a cada etapa bem-sucedida do investimento anterior. Assim os “aventureiros” ficam logo pelo caminho e não recebem mais apoio financeiro.”

Olhando para este números da AIPEX, Fernandes Wanda, reconhece que os investimentos realizados são muito curtos e assegura que em várias ocasiões já apresentou uma resposta para o baixo nível de implementação das iniciativas empresariais. Para ele a intenção existe, mas depois esbarra num mar de complicações burocráticas que tornam inviável a materialização dos projectos. Tudo isto, segundo disse, seria ultrapassado, havendo “espaço físico (falamos de perímetros irrigados e pólos industriais) devidamente infraestruturado para executar os projectos.”

Como solução de acelerar a realização de investimentos, diz que “temos de olhar para o exemplo de países como o Vietname ou Etiópia, lá foram criados, primeiro, espaços para que os potenciais investidores pudessem acomodar os seus projectos, depois vieram os incentivos.” Por outro lado, avança que no caso de Angola, “o acesso a estes espaços foi condicionado a apresentação de projectos viáveis (muitas pessoas detêm terrenos ociosos no pólo industrial de Viana).”

Entretanto alerta que, “numa economia de mercado o Estado não pode impedir a iniciativa privada, mas pode canalizar os incentivos apenas para aqueles sectores que desejar dinamizar.”

E dá um exemplo: “Se a meta é fomentar a produção de alimentos de base agrícola (como a produção de cereais), o Estado pode dar incentivos apenas para quem investir nessa área.” Lembra também que a solução não são os incentivos fiscais, especialmente na ausência de espaços físicos para executar os projectos.

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