Papa insurge-se contra as multinacionais que pilham os recursos de África

Frases fortes e contundentes têm marcado as intervenções do Papa Francisco na sua visita ao República Democrática do Congo (RDC) que conheceu esta quinta-feira, dia 2, o seu terceiro dia.
“Uma pessoa corrupta é honesta? É ou, não é?”, perguntou o chefe da Igreja Católica no estádio dos Mártires de Pentecostes na cidade de Lingwala, na RDC, onde conduziu um encontro com jovens congoleses que convidou a cultivar a oração, a solidariedade, a honestidade, a humildade e o perdão. A resposta dos 80 mil jovens foi uníssona: “Não!”, seguiu-se uma chuva de aplausos.
Num tom pedagógico, o Papa considerou estes valores como cinco ingredientes para a promoção da paz. No que respeita à oração, observou que ela, juntamente com a escuta da palavra de Deus, conduz ao crescimento. A oração é como a água e a alma. Pediu à audiência que pegasse no crucifixo e olhasse para Jesus. Jesus, disse ele, fez da cruz a base para a ressurreição. A ele vocês têm de confiar os amigos, o professor, o bairro, o país…
Em relação à solidariedade, explicou que deixa um vazio interior, aconselhando: “Sintam-se como uma igreja, um povo”, insistiu ele, “em relação à solidariedade.”
O terceiro ingrediente, a honestidade, considerou ser o oposto da corrupção. Aqui ele começou a questionar este flagelo, que descreveu como um “cancro”, salientando que parece dar-se bem neste mundo. “Se alguém te entregar um envelope para te corromper, não caias na armadilha”, exortou.
O perdão é saber como recompensar. Para criar um mundo, devemos receber e conceder perdão. Assim, convidou a audiência a observar um tempo de silêncio antes de convidar todos os presentes a pensar nas pessoas que os ofenderam e a perdoar-lhes.
Sobre o quinto ingrediente, falou da pequenez ou humildade. A humildade, observou, atrai Deus. “Aquele que serve faz-se pequeno. Finalmente, exortou os jovens a nunca se sentirem desencorajados. “Quando estiverdes desencorajados, olhai para o Senhor.”
Para além de bispos, várias personalidades participaram no encontro, entre eles o primeiro-ministro Sama Lukonde, vários membros do governo, bem como de deputados e senadores.
Na terça-feira, logo à chegada ao país, em resposta ao discurso de boas-vindas do presidente congolês Felix-Antoine Tshisekedi, o Papa enviou uma mensagem às multinacionais: “Tirem as mãos da RDC! Tirem as mãos de África!” E continuou: “Este país, permanentemente saqueado, não conseguiu ainda fazer uso dos seus imensos recursos: só conheceu um paradoxo: os frutos da sua terra tornam-se “estrangeiros” para os seus habitantes. O veneno da ganância ensanguentou os seus diamantes. Esta é uma tragédia para a qual o mundo economicamente mais avançado vira muitas vezes o olhar. Mas este país e este continente merecem ser respeitados e ouvidos. Parem de sufocar África: não é uma mina a ser explorada ou uma terra a ser assaltada. Que a África seja o protagonista do seu próprio destino”, rematou o Sumo Pontífice.
Para o chefe da Igreja Católica, o continente africano continua a sofrer várias forças de exploração. “Depois do colonialismo político foi desencadeado um colonialismo económico que escraviza igualmente as populações”, disse. E prosseguiu apelando a “uma diplomacia de homem para homem, de povos para povos, (que) deve ser implantada, segundo a qual as oportunidades de crescimento das pessoas estão no centro, e não o controlo dos recursos, os objectivos de expansão e o aumento dos lucros. Olhando para este povo, fica-se com a impressão de que a comunidade internacional quase se resignou à violência que os está a devorar.”