‘Nayola’ chega quinta-feira às salas de cinema portuguesas

Três gerações de mulheres, a guerra civil angolana como pano de fundo. A frase é demasiado curta para resumir ‘Nayola’, a primeira longa-metragem de animação de José Miguel Ribeiro, inspirada na peça ‘A Caixa Preta’, dos escritores José Eduardo Agualusa (angolano) e Mia Couto (moçambicano). Com argumento de Virgílio Almeida, o filme mostra que “as guerras nunca terminam” e que as lutas por um mundo melhor se podem perder se as vozes se calarem.

A primeira exibição pública de ‘Nayola’ ocorreu a 13 de junho do ano passado no Festival Internacional de Cinema de Annecy, em França. Às salas angolanas chegou a 31 de Março e às portuguesas irá fazer a sua estreia depois de amanhã, dia 13 de Abril.

Após o circuito dos festivais e de ter conquistado vários prémios, o realizador José Miguel Ribeiro diz que o maior prémio é que os angolanos sintam o filme como deles e começa por descrever como é que a luta pela construção de uma família também reflecte a luta pela construção de um país. As vidas de Lelena, (avó), Nayola, (filha), e Yara, (neta), são marcadas por um segredo dilacerante, uma busca temerária, uma canção de combate, um amor suspenso, uma viagem iniciática e uma rusga trágica.

Numa recente entrevista à RFI, José Miguel Ribeiro destaca que a peça de teatro revelou uma “grande dimensão humana. […Todas estas três personagens têm as suas qualidades, mas também têm os seus segredos, os seus lados menos positivos e todas elas lutam e mostram-se de uma forma bastante humana. Essa dimensão humana das personagens foi uma das coisas que mais gostei, a forma como eles as escreveram, como nós tentámos depois também trazê-la de uma forma, se calhar, mais simbólica.”

O realizador quis também mostrar a força das mulheres. “Continua a ser necessário. Infelizmente continuamos num mundo muito machista, onde o espaço das mulheres tem de ser conquistado com luta e com força e são, de facto, as mulheres que têm feito essa luta.”

Sobre a escolha de Angola como pano de fundo, José M. Ribeiro foi claro: “Angola não é propriamente um tema distante de mim, acho que de nenhum português. Mas conhecia muito pouco Angola, confesso, e quando comecei este trabalho tive de reconhecer a minha ignorância e fazer uma longa pesquisa de mais de cinco anos a ler tudo o que apanhava, a ler também altos autores para além do Agualusa, Pepetela, fazer a minha investigação pessoal para depois, já num processo criativo, poder fechar os livros, escutar a minha memória dessa experiência que foi longa e grande e onde aprendi muito.” E o que aprendeu? “Aprendi essencialmente a sair da minha posição de ocidental porque essa é talvez a grande aprendizagem deste processo criativo de fazer este filme. É que em Portugal e na Europa continuamos muito limitados na capacidade de nos meter no lugar dos africanos. E quando lá estamos e quando começamos a aproximar-nos, aí é que vemos a distância entre aquilo que é o olhar de África sobre a Europa e o olhar da Europa sobre a África. É uma distância enorme.”

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