Procuram-se fundos para combater as alterações climáticas

“Os países em desenvolvimento não podem sair de Baku, de mãos vazias. Um acordo é obrigatório”, disse ontem, terça-feira, dia 12, o Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, numa cimeira marcada pela ausência de vários líderes mundiais.

O “fundo de resposta às perdas e danos” causados pelas alterações climáticas nos países mais vulneráveis, criado na COP28, está agora praticamente operacional e prepara-se para libertar os seus primeiros fundos em 2025, anunciaram os seus gestores em Baku, na terça-feira.

“O fundo de resposta às perdas e danos está pronto para desembolsar os seus fundos”, declarou o seu diretor executivo, o senegalês Ibrahima Cheikh Diong, aquando da assinatura dos protocolos de lançamento oficial do fundo durante a COP29, em Baku.

Este lançamento mostra que, no grande braço de ferro sobre o financiamento do clima entre o Norte e o Sul, o tema central da COP29, as coisas estão a avançar.

Até à data, o fundo recebeu 700 milhões de dólares de compromissos de países ricos (Alemanha, França, Emirados Árabes Unidos, Dinamarca, etc.).

Adoptado em princípio na COP27, no Egipto, e criado com grande alarido na COP28, nos Emirados Árabes Unidos, este fundo destina-se a apoiar os países mais vulneráveis face à devastação causada pelas inundações e furacões que se multiplicam devido ao aquecimento global.

A sua criação, após anos de duras negociações, responde a um pedido forte e de longa data dos países em desenvolvimento, que estão muito agastados por estarem a sofrer os piores impactos das alterações climáticas, apesar de serem os menos responsáveis por elas.

Após um ano de trabalho suplementar, o fundo tem agora um director e um conselho de administração – onde os países em desenvolvimento estão mais bem representados do que noutros fundos internacionais – com sede em Manila, nas Filipinas.

Estruturalmente, no entanto, o fundo é temporariamente acolhido pelo Banco Mundial, uma decisão tomada apesar da hostilidade dos países do Sul.

De acordo com algumas estimativas, os países em desenvolvimento precisam de mais de 400 mil milhões de dólares por ano para se reconstruírem após as catástrofes relacionadas com o clima. Um estudo situa a factura global entre 290 e 580 mil milhões de dólares por ano, até 2030, e ainda mais no futuro.

Esta terça-feira, dia 12, os vários líderes mundiais deveriam estar presentes na COP29, a fim de impulsionar as negociações, mas muitos deles pautaram pela ausência ao encontro onde o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, discursou. Guterres frisou que o montante do fundo “está longe de ser suficiente para compensar os danos infligidos aos mais vulneráveis.”

“Os países em desenvolvimento não podem sair de Baku de mãos vazias. Um acordo é obrigatório”, disse Guterres numa cimeira marcada pela ausência de vários líderes.

Um tiquetaque explosivo

700 milhões de dólares “equivalem aproximadamente ao rendimento dos dez jogadores de futebol mais bem pagos do mundo”, mas não representam sequer um quarto dos danos causados no Vietname pelo furacão Yagi, em Setembro, acrescentou.

“No que respeita ao financiamento da luta contra as alterações climáticas, o mundo tem de pagar, ou a humanidade pagará o preço”, sublinhou Guterres, acrescendo: “O som que ouvem é o tiquetaque do relógio. Estamos na contagem decrescente final para limitar o aumento da temperatura global a 1.5 graus Celsius e o tempo não está do nosso lado”.

Os cientistas avançaram já que 2024 deverá ser o ano mais quente de que há registo, estando previsto que o planeta atinga os 1.5 graus Celsius de aquecimento acima da temperatura média pré-industrial, o limiar apontado no Acordo de Paris como o limite que determina que o mundo possa chegar a um ponto irreversível.

Após a eleição de Donald Trump, um negacionista das alterações climáticas, os cientistas temem que os avanços conquistados estagnem ou retrocedam.

Refira-se que encontram-se em Baku, capital do Azerbaijão, cerca de 200 líderes mundiais a fim de encontrar formas de financiamento que ajudem a custear a implementação de medidas que travem os efeitos das alterações climáticas e as consequências já sentidas, sobretudo nos países em desenvolvimento.

Notícias relacionadas
Comentários
Loading...