Patrões e gestores pedem extensão dos prazos de reembolso dos empréstimos

No quinquénio 2019-2023, o financiamento às empresas do sector produtivo quase dobrou, saindo de 1.514 para um total de 2.446 unidades financiadas. Os mecanismos de crédito adoptados, através da banca comercial, permitiram desembolsar pouco mais de 1,4 biliões Kz, com a indústria transformadora a receber a maior fatia.

Os empresários e gestores de empresas pedem o alargamento dos prazos de reembolsos dos créditos concedidos pela banca comercial, no âmbito do Programa de Diversificação da Economia e Substituição das Importações (PRODESI), para evitar o incumprimento e garantir a produtividade das empresas financiadas.

É o que defende José Severino, presidente da Associação Industrial de Angola (AIA), para quem o alargamento deve ser supervisionado pelo Banco Nacional de Angola (BNA). O patrão dos patrões garante que o PRODESI é uma iniciativa positiva, mas em cinco anos não atingiu os objectivos desejados, reconhecendo que muito mudou no sector produtivo e há cada vez mais produtos de origem nacional.

Segundo o jornal Expansão, quanto ao reembolso dos créditos, José Severino diz que muitos produtores estão a vender a sua produção além fronteiras para permitir que os empresários que tiveram acesso ao crédito, através das linhas de financiamentos do PRODESI, consigam reembolsar os créditos concedidos pela banca no âmbito do Aviso 10 do BNA e outros mecanismos financeiros.

José Alexandre, gestor da fazenda Santo António, diz que a principal razão de incumprimento foi a situação mundial de dificuldade na cadeia de suprimentos com a Covid-19, aumento dos custos operacionais e, acima de tudo, o grande competidor da produção nacional: a importação.

Lamenta, por outro lado, a falta de apoio na comercialização dos produtos nacionais e a falta de subsídios. Para ele, não existe forma de este PRODESI ou outro que vier atingir os seus objectivos de diminuição das importações e Angola atingir a sua soberania alimentar. “Pode ser que um dia haja uma leitura diferente das reais necessidades da economia do País e possamos todos pensar Pais”, disse o empresário.

Apesar do optimismo de José Severino, José Alexandre diz que o lançamento do programa e o facto de se querer apostar na diversificação da agricultura e pela primeira vez se fazer referência a uma linha de produtos prioritários foram aspectos positivos. Contudo, lamenta que tenham sido preconizados demasiados produtos. Para ele, isto retirou foco e pouco impacto em termos de produção. Entende que o sucesso do PRODESI dependia das taxas de juro e períodos de carência e maturidade dos financiamentos mais extensos.

“A falta de experiência dos promotores e a carência de recursos humanos qualificados, comprometeram os projectos e a sua boa execução, factores a que acresce a carência de estradas no País e electrificação, que contribuíram para os grandes custos de produção e dificuldades de logística”. referiu.

Por isso, muitos empresários dizem que ainda há muito caminho a percorrer, para se atingir a auto-suficiência alimentar.

José Severino lembra que, embora não se tenham atingido os objectivos do PRODESI, muita coisa mudou em relação ao conceito de produção no País, já que é hoje notório um aumento da produção nacional, sobretudo ao nível da indústria transformadora, por sinal o sector mais financiado.

Magnus Buchartts, relações comerciais da Glotts Enterprise, empresa ligada ao comércio e prestação de serviços, afirma que o País perdeu uma grande oportunidade para potenciar os operadores do sector produtivo e aumentar a oferta das matérias-primas, sobretudo para a indústria transformadora, que continua fortemente dependente da importação de bens intermédios e matérias-primas.

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