Moçambique: Cultura do algodão em perigo em Cabo Delgado
A insurreição armada, atribuída ao terrorismo islâmico que tem devastado a província Cabo Delgado, no extremo Norte de Moçambique, desde Outubro de 2017, está também a colocar em perigo a cultura do algodão, uma importante fonte de rendimento dos agricultores em toda a província. Milhares de agricultores a enfrentarem a perspectiva de não conseguirem vender as suas colheitas.
Refira-se que o negócio do algodão em Cabo Delgado tem vindo a decair já há algum tempo. Como exemplo disso, a empresa britânica Plexus Cotton, que detém as maiores concessões na província, precisava de uma ajuda governamental de 2 milhões de dólares em 2020, para poder pagar aos agricultores e aos seus trabalhadores que estavam em greve.
A empresa defende que a insurreição na região, bem como pela pobreza e desigualdade, está a tornar as condições de trabalho demasiado perigosas, e os bancos deixaram de financiar as empresas que operam na província.
“Temos uma enorme propriedade em Cabo Delgado onde trabalham cerca de 165.000 agricultores, todos eles com cerca de sete dependentes”, disse Nick Earlam, o CEO da Plexus, em Londres, no final de Junho. Após referir que a empresa trabalha com populações de 900 aldeias da província, o responsável lamentou que os bancos em Maputo, no extremo sul do país, não queiram “financiar a agricultura em Cabo Delgado, ou a capacidade de segurança para proteger a cultura”. “Dentro de alguns dias vamos fechar”, avisou Earlam.
Um antigo banqueiro ligado ao sector agrícola confirmou “os bancos moçambicanos não concedem empréstimos a descoberto a empresas em Cabo Delgado”.
As três das áreas onde a Plexus opera, Ancuabe, Meluco e Chiure, assistiram a “terríveis ataques dos insurgentes”, disse Earlam. “O nosso pessoal está relutante em sair sem segurança adequada”, disse Earlam, acrescentando que o problema ainda se iria agravar. Mas se a Plexus não puder comprar a colheita deste ano, isso quer dizer que “50 000 agricultores ficarão numa situação muito precária não podendo alimentar as suas famílias”.