Ministra pede bom senso aos professores em greve

O Ministério da Educação já respondeu algumas das reivindicações apresentadas pelo Sindicato dos Professores Angolanos (SINPROF) e o tratamento das outras poderá levar algum tempo, pelo facto de implicarem mais recursos e conjugação de esforços de todo o Executivo, disse, terça-feira, no Soyo, a titular da pasta, Luísa Grilo, que apela ao bom senso.

Falando à margem do acto central do Dia Nacional do Educador, a ministra da Educação reafirmou a vontade política do Executivo em resolver todos os problemas que são colocados pelos professores.

“É nosso interesse que os professores tenham condições de habitabilidade e de trabalho. A valorização do professor é do interesse do Executivo”, disse Luísa Grilo.

A ministra da Educação aconselhou os professores no sentido de continuarem a trabalhar com tranquilidade, pois o Executivo vai, em breve, resolver as preocupações colocadas.

“Reconhecemos que há alguma morosidade, mas não é por falta de consideração, nem tão pouco de interesse em resolver os problemas, mas é a complexidade dos mesmos, que, de certeza absoluta, com ou sem a pressão dos professores, vão ser resolvidos”, tranquilizou.

Luísa Grilo pediu aos professores para não penalizarem os alunos, com a greve, num momento, como frisou, em que está a ser reorganizado todo o processo docente educativo, depois dos anos turbulentos vividos, por causa da Covid-19.

Em relação à distribuição de manuais escolares, a ministra esclareceu que o processo decorre com normalidade, estando neste momento a 80 por cento, apesar de enfrentarem-se dificuldades relacionadas à distância e às condições das vias em algumas províncias.

Acrescentou que a distribuição de carteiras começou em Julho deste ano, estando a ser feita de forma paulatina, obedecendo ao plano das províncias. “Gizamos um programa mais célere. A empresa transporta, monta e equipa a escola, que é indicada pela província”.

Caderno reivindicativo
O secretário-geral do SINPROF, Ademar Jinguma, disse, ontem, à imprensa, que as negociações não deram os resultados esperados pelos professores.

“Estamos a reclamar subsídios para os professores que trabalham em zonas recônditas. Os subsídios de férias não devem ser pagos de forma faseada. Exigimos, também, a separação da folha do décimo terceiro a do salário de Dezembro, porque os descontos do IRT são agravados”, disse.

Acrescentou que, nos 14 pontos do caderno reivindicativo, estão a defender, também, a distribuição equitativa da merenda escolar, dignificação dos professores, valorização do tempo de serviço, aumento salarial e melhoria das condições sociais e de trabalho.

Segundo o secretário-geral do SINPROF, as negociações, que começaram em 2019, permitiram a assinatura de um memorando de entendimento, “mas o actual estatuto remuneratório dos agentes de educação e o conjunto de subsídios há muito deixou de satisfazer os anseios da classe docente”.

A greve, que começou ontem, foi decretada, sábado, no Dundo, província da Lunda-Norte, pelas organizações sindicais do sector da Educação, e vai até ao próximo dia 30.

Adesão 
Na maior parte das escolas da cidade de Luanda por onde a nossa equipa de reportagem passou, o cenário era o mesmo: salas vazias, apesar da presença de professores e membros de direcção, que não aceitaram ser entrevistados.

No Dundo, província da Lunda-Norte, as instituições de ensino não-universitário, também, estavam vazias.

Gestores escolares declinaram prestar declarações, alegadamente para evitar perturbação no processo de negociação em curso, entre os agentes do sector da Educação e a entidade patronal.

O secretário provincial do Sindicato Nacional dos Professores, Francisco Mandjolo, disse à nossa reportagem que os trabalhadores do ensino não-universitário aderiram, em massa, à greve.

O sindicalista acrescentou que, além da melhoria da situação remuneratória dos professores e outros agentes do sector da Educação, a classe defende a isenção do sistema da monodocência nas 5ª e 6ª classes, uma vez que nem todos os professores estão preparados para orientarem o processo de ensino nos referidos níveis.

Em Mbanza Kongo, província do Zaire, professores do ensino geral, também, aderiram à greve, que está a ser muito criticada por crianças, que apelam ao bom senso dos educadores, uma vez que se aproxima o período das provas do primeiro trimestre do ano lectivo 2022/2023.

Várias crianças compareceram nas escolas, mas foram surpreendidas com a ausência da maior parte dos professores, apesar das áreas administrativas encontrarem-se em pleno funcionamento.

O secretário provincial do SINPROF, Mambuene Ernesto António, confirmou a paralisação total das aulas a nível da região.

Na cidade do Luena, província do Moxico, as escolas públicas, ontem, também, estavam vazias. O presidente do Sindicato dos Professores, Guilherme Silva, disse que a greve tem grande adesão dos professores.

Na província do Cunene, o secretário do Sindicato dos Professores, Augusto Baptista, confirmou a paralisação das aulas e aproveitou a ocasião para dizer que as direcções  municipais da Educação nunca beneficiaram de meios de transporte, tendo de depender dos administradores municipais, o que dificulta o trabalho de fiscalização e aconselhamento aos professores.

Lamentou o estado de degradação das escolas de Ondjiva, o que faz com que muitos alunos estudem debaixo das árvores.

Afirmou que os trabalhos administrativos estão a funcionar na normalidade e que, depois do dia 30, caso o Executivo não resolva os problemas dos professores, será decretada nova greve, a partir do dia 6 de Dezembro.

Na Lunda-Sul 4.200 professores aderiram à greve, segundo o secretário provincial do SINPROF, Paixão Licaxi.

Escolas sem alunos e com vários professores interagindo descontraidamente era o cenário registado ontem, em Saurimo.

Em Cabinda, em vários estabelecimentos de ensino constatou-se a presença de alunos e ausência de professores.

O secretário provincial do Sindicato dos Professores, Francisco Sense, assegurou que os mais de cinco mil professores que participam do processo de ensino e aprendizagem nas escolas públicas aderiram à greve, para reivindicar a actualização dos salários, clarificação da situação da monodocência e outros pontos constantes do caderno reivindicativo.

Segundo o sindicalista, a greve vai decorrer em três fases: a primeira, que começou quarta-feira com termo previsto para o dia 30. A segunda está prevista para o dia 6 de Dezembro e termina a 16 do mesmo mês, enquanto a última irá acontecer no dia 3 de Janeiro e acabará a 30 do mesmo mês.

A província de Cabinda conta actualmente com 172 escolas, entre públicas e privadas, o que corresponde a 2.571 salas de aula.

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