Macron aposta numa nova visão para África
“Estou profundamente humilhado com o que está a acontecer no continente africano”, referiu o presidente francês, Emmanuel Macron, ontem, segunda-feira, dia 27, durante o seu discurso no Palácio do Eliseu sobre a estratégia diplomática e militar da França em África, um continente onde a influência deste país tem sido muito contestada nos últimos tempos. Amanhã, Macron partirá para uma digressão que o levará a quatro países da África Central: Gabão, Angola e os dois Congos.
A França deve mostrar “profunda humildade” em África, disse Macron, fazendo questão de apresentar a sua nova visão de África. “Esta é uma situação sem precedentes na História, com uma soma de desafios vertiginosos”, referindo-se às questões de segurança, do clima e demográficos” que o continente enfrenta.
Macron detalhou a sua visão de parceria com os países africanos e o caminho que pretende seguir no segundo mandato. “A França quer construir uma nova relação equilibrada e recíproca com os países do continente africano”, disse, mencionando, por exemplo, um novo programa económico apoiado pela França chamado “Choose Africa 2”, com tem em vista “aumentar o investimento francês em start-ups em vários países africanos.”
Também anunciou “uma lei-quadro” para “proceder a novas restituições” de obras de arte “a países africanos que o solicitem.”
Macron reconheceu que a França tinha assumido “uma responsabilidade excessiva” numa década de envolvimento militar no Mali, e anunciou o fim da “preeminência da segurança” nas relações com África. O empenho francês na luta contra o jihadismo no Sahel “continuará a ser um imenso orgulho partilhado com os aliados que se juntaram a nós”, reiterou, evocando a cronologia da última década de empenho no Mali, e o seu preço final.
Mais adiante, Macron anunciou que a França só terá bases militares em África com uma gestão conjunta com os países africanos, reduzindo os seus efectivos, mas fará um “esforço acrescido” na formação e no equipamento. “A transformação começará nos próximos meses com uma redução visível de efectivos e um aumento do poder dos nossos parceiros africanos.”
Refira-se que a França ainda dispõe de cerca de 3 mil militares no continente, a maioria no Níger e no Chade, – já foram 5.500 – mas pretende reorganizar a sua presença nos países do Golfo da Guiné, assolados pelo recrudescimento jihadista, e ser menos visível no terreno.
Macron insistiu que África não deveria ser “um terreno de competição”, rejeitando as leituras do passado. O presidente francês também se referiu ao grupo Wagner, avisando que os estados africanos que utilizam os “mercenários russos” acabarão por passar bem sem eles uma vez que estes semeiam a desgraça onde quer que estejam implantados. “É um grupo de mercenários criminosos (…) que é o seguro de vida de regimes falhados e putschists.”
Amanhã, 4ªfeira, terá início a digressão africana de Macron. Na primeira etapa, em Libreville, Gabão, participará numa cimeira sobre a preservação das florestas da bacia do rio Congo.
Em Julho último, o presidente francês visitou os Camarões, o Benim e a Guiné-Bissau. “Macron pretende continuar as suas visitas ao continente de seis em seis meses”, adiantou uma fonte do Eliseu.
“Hoje, os países africanos escolhem os seus parceiros de forma livre e soberana”, salientou a Secretária de Estado do Desenvolvimento, Chrysoula Zacharopoulou, que acompanhará o presidente francês na sua viagem. Zacharopoulos acredita que o sentimento anti-francês na África francófona está a pressionar Paris a mudar a sua posição, tornando-se mais humilde e atenta aos assuntos africanos.”